Catecismos na dilatação da fé e da cultura

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Manuel Augusto Rodrigues

Ao longo de quinze anos o Padre José Blinquete da diocese de Aveiro deteve-se em demoradas e cuidadosas investigações feitas em arquivos e bibliotecas nacionais e estrangeiros com o objectivo de elaborar uma monumental obra em dois volumes com 1.600 páginas, intitulada “História da Catequese em Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste”.

O livro pretende revelar os catecismos elaborados em diversas línguas pelos missionários portugueses. Estamos perante uma obra que vem cobrir uma lacuna grave que há muito se fazia sentir e que ficará como um marco indelével da história religiosa e cultural.

Ao longo desta vasta recolha são abordados temas importantes como a história da catequese desde Jesus e dos Apóstolos, passando pelos primeiros séculos da Igreja e pela parte relativa a Portugal, até à impressão do primeiro catecismo no nosso país (1489) e ao concílio de Trento.

Segue-se um capítulo sobre a história da catequese junto dos povos que os Portugueses foram encontrando nas suas andanças pelo mundo: Índia/Goa, Costa do Malabar, Malaca e Singapura, Ceilão, Japão, China, Camboja, Coreia, Aname-Vietnam (Cochinchina), Tibete, Etiópia ou Abissínia, Macau, Timor, Cabo Verde, Guiné, Benim, Angola, Moçambique e Brasil. O A. fala depois do “milagre das línguas” e do papel do catecismo desde Trento até aos nossos dias, estudando de seguida a catequese nas antigas províncias ultramarinas.

Deste verdadeiro monumento de erudição conclui-se que os missionários portugueses deixaram um rasto indelével que muito beneficiou a promoção da cultura de muitos povos. Permite conhecer quem foram os missionários, as línguas que tiveram de aprender como o amarico, o tamil e o chinês. A primeira é uma língua semítica e é o idioma oficial da Etiópia; a tradição faz remontar a criação daquele reino à rainha de Sabá que visitou Salomão em Jerusalém no séc. X a.C.. A existência de judeus etíopes, chamados Falashas, daria o seu fundamento a esta lenda; a conversão ao cristianismo do reino de Axum, a norte da actual Etiópia data do séc. IV e a primeira versão da Bíblia para etíope do séc. V. De destacar a catequese dos jesuítas que se fazia também por meio do teatro e da arte. Desde 1551 até 1773 representaram-se mais de 100.000 peças nos muitos colégios disseminados por toda a parte, grande parte delas com alusões a temas e figuras bíblicas da história da Igreja. A arquitectura de estilo barroco estava orientada para a pedagogia dos fiéis através da emoção e do amor a Cristo ressuscitado e vivo na comunidade.

O púlpito e o altar tinham um papel preponderante. Das línguas dos povos índios do Brasil temos o tupi, o guarani, o kakiti, etc. O livro do Padre Blinquete permite-nos conhecer ainda os dicionários bilingues e os vocabulários que elaboraram, as gramáticas que redigiram e as tipografias utilizadas. Como exemplo temos o caso de José de Anchieta que escreveu “Arte de Gramática da língua mais usada na Costa do Brasil”, impressa em Coimbra por Antonio Mariz no ano de 1595. Os linguistas muito podem beneficiar deste valioso acervo de textos.

As ilustrações insertas e os índices insertos enriquecem sobremaneira a obra. É um levantamento a todos os títulos notável cuja falta há muito se fazia sentir. Todos devemos estar gratos ao Padre Blinquete pelo trabalho ingente que teve de nos mostrar o papel importantíssimo desenvolvido pelos arautos do Evangelho na divulgação da mensagem cristã. Foi uma verdadeira epopeia que nunca será demais enaltecer. Deve-se ao Padre Valentim Marques, gerente da Gráfica de Coimbra, a inspiração para a realização deste valioso livro que foi primorosamente impresso naquela conceituada tipografia.

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