Opinião – O Islão na actualidade

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Manuel Augusto Rodrigues

Nos últimos anos têm-se levantado inúmeras questões acerca do Islão e das suas várias ramificações, em particular do seu relacionamento com as outras religiões, culturas e civilizações. O Islão está na ordem do dia pelas mais diversas razões, desde as de índole religiosa e cultural às de cariz político, económico e financeiro.

Depois de um período brilhante durante a Idade Média, veio a fase de declínio em que dominou o império otomano e que perdurou até ao séc. XIX. Iniciou-se então a renascença árabe que, influenciada pelas ideias francesas e beneficiando de importantes factores como os económicos, viria a culminar nas independências dos vários países do Norte de África e do Médio Oriente. De salientar que a religião, a cultura e a língua se mantiveram vivas no seio das comunidades desde a fase inicial com Maomé, pesem embora a resistência encontrada e o clima hostil que tiveram de suportar por parte, essencialmente, do lado cristão, que se traduziu em guerras e polémicas frequentes.

Entre as questões mais relevantes que hoje se levantam quando se fala do Islão, lembramos para já o aumento significativo de adeptos de Maomé na Europa e no resto do mundo.

O seu número é estimado em mais de um bilião. O cristianismo nos seus diversos ramos de há bastante tempo que mostra sinais de um grande enfraquecimento que se atribui à laicização com o consequente abandono das crenças e práticas religiosas tradicionais.

O Papa falou da Europa transformada em deserto espiritual. Será também neste contexto que agora se fala de um Ano da Fé e de uma Nova Evangelização por parte da Igreja.

Nos países do Velho Continente, há actualmente mais de 50 milhões de muçulmanos com uma taxa de natalidade muito superior à dos estados para onde imigram, criando-se um fosso demográfico enorme agravado com o envelhecimento das populações.

Calcula-se que após algumas décadas aquele número passará para mais de 100 milhões enquanto a população da Europa descerá significativamente, havendo mesmo quem fale dum futuro continente islâmico que se estenderá à Rússia e países limítrofes.

E o mesmo poderá acontecer com outros continentes. As mesquitas multiplicam-se a um ritmo surpreendente, o Corão e as práticas islâmicas divulgam-se cada vez mais e criam-se centros culturais e meios de comunicação a partir dos quais irradia uma outra visão do mundo e do homem.

No meio de tudo isto, se por um lado se assiste a tentativas de diálogo frutuoso que as outras religiões tentam promover com o Islão, por outro lado constata-se a frequente oposição à presença de crentes de outras culturas, em especial a cristã, em certos países dominados pelos povos da Meia Lua, como se houvesse uma incompatibilidade entre crenças e, o que é assinalável, a tendência para uma islamização total da humanidade sob o signo de Allah. A liberdade religiosa muito tem sido afectada nalguns países. Ainda agora soubemos que a China proibiu o jejum do Ramadão.

Tentando abrir perspectivas mais optimistas, o reputado comentador Stefano Femminis, actualmente director da revista mensal “Popoli” dos padres jesuítas italianos e que colaborou durante vários anos nos “Aggiornamenti Sociali”, publicação de análise e intervenção social dos discípulos de Loiola, chama contudo a atenção para as profundas mudanças a que temos vindo a assistir nos países de tradição muçulmana, o que leva os estudiosos e simples observadores a extrair certas conclusões que merecem alguma reflexão.

No Norte de África surgiu, pelo menos até agora, uma imagem diferente daquilo a que estávamos habituados do lado de cá do “Mare Nostrum”. Difundiu-se antes a ideia de que Islão e modernidade eram inconciliáveis. Dizia-se que o muçulmano actual estava atrasado quatro ou cinco séculos relativamente ao Ocidente. Mas depressa se viu que as mentalidades sofreram alterações e que as tecnologias também haviam penetrado nesses países que assim se aproximaram do mundo ocidental.

Falava-se do muçulmano teocrático como se não fossem possíveis as ideias de liberdade de pensamento. Mas o conhecido islamólogo padre jesuíta Samir Khalil Samir sublinhou o papel que o Islão laico desempenhou um papel importante na chamada Primavera árabe na Tunísia, Líbia, Egipto e agora na Síria. Mesmo no Irão há sinais visíveis de oposição à teocracia, “à união do trono e do altar”, à supremacia do chiismo, paladino da ideia de um estado islâmico em que o direito se baseia na Sharia.

Insistia-se no fundamentalismo intransigente que não tolerava a existência e a convivência de cristãos e muçulmanos. Mas também aqui se constatou em muitas partes uma evolução digna de registo que se verifica também na Europa e noutros continentes em que o diálogo e a convivência se tornaram uma realidade.

Lembramos que no Paquistão estão actualmente cerca de 600 homens e mulheres franciscanos, entre religiosos e leigos, que ali desenvolvem uma excelente actividade cultural e social. Recordamos ainda que no dia 17 de Junho houve um acto religioso na “Friedenskirche” da comunidade evangélica livre baptista de Kamp-Lintfort que reuniu cristãos e muçulmanos e foi transmitido por um dos canais da televisão alemã.

Durante o encontro, entre outros momentos, leram-se textos da Bíblia e do Corão, foram entoados cantos e rezou-se o Pai-Nosso em conjunto. E podíamos referir mais factos comprovativos da aproximação islamo-cristã. Serão pequenos sinais que podem apontar para uma resposta aos dilemas e interpelações que hoje se colocam à nossa consideração?

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