Nascer com dívidas que outros fizeram

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Editorial: Eduarda Macário

O presidente da Juventude Social-Democrata disse em Coimbra que “cada português que nasce deve 16 mil euros”. Já não bastava nascer sem direito a abono de família, como já acontece com a grande maioria das crianças portuguesas? Já não bastava nascer no seio de famílias endividadas? Já não bastava nascer sem grandes perspetivas de emprego porque o país vai demorar alguns anos a levantar-se? Já não bastava nascer, muitas vezes, em famílias desestruturadas? Ainda têm que nascer com uma dívida que outros fizeram?

Percebe-se, agora, porque é que os portugueses – com algumas preocupações – não têm mais filhos. Feitas as contas a tudo isto, cada vez mais parece um crime pôr uma criança no mundo. Exagero? Talvez não! E nada melhor do que o Dia Mundial da Criança para se fazer uma reflexão séria. Não só em nome de todas as crianças que irão nascer. Mas, fundamentalmente, sobre aquelas que vivem em situação de abandono e de maus tratos constantes aos mais diversos níveis e por todo o mundo. Não devemos cair no pessimismo de achar que nada vale a pena.

Mas, com o relativo otimismo que se exige para se continuar a viver com alguma boa disposição, há que reconhecer que a situação não está fácil para a maioria dos portugueses que querem o melhor para os seus filhos. E melhor, é um lar, formação, a concretização de alguns sonhos. É certo, que os nossos pais e avós diziam que onde come um comem mais dois ou três. Mas, se dar de comer for a preocupação número um – e, infelizmente, já começa a ser – então senhores políticos não venham com a treta da promoção à natalidade só porque é preciso inverter a tendência de envelhecimento do país. Não pode pedir-se às famílias portuguesas que venham substituir-se ao Estado criando as condições para que o país funcione e se rejuvenesça. Elas já fazem a sua parte!

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