Editorial: Eduarda Macário

Os elementos da “troika” e os jornalistas que os acompanham estão “encantados” com a forma como vivem os portugueses. Restaurantes lotados, lojas cheias e muita gente na rua a qualquer hora do dia e da noite. Toda a gente anda de carro. É claro que o cenário é Lisboa. E se as justificações para a ajuda externa estiverem dependentes deste cenário de “Ali Bába e os 40 ladrões”…. os portugueses do país real estão… lixados. Deseja-se, pois, que o relatório dos “homens da troika” não seja feito a partir da sua experiência vivida na capital onde a realidade é bem diferente do resto do país. Será que ainda ninguém – dos mais diversos partidos ou ilustres personalidades portuguesas conscientes da verdadeira situação que o país atravessa – teve coragem para levar a “troika” numa viagem pelo país? Às pequenas cidades, vilas e aldeias onde não há dinheiro para encher restaurantes, nem centros comerciais. Onde as pequenas empresas se vão aguentando com muita dificuldade procurando enfrentar os ventos da desgraça e procurando garantir os salários às famílias. Onde muitas escolas mantêm as cantinas abertas durante as férias garantindo, assim, a única refeição do dia às crianças. Onde as reformas mal dão para os medicamentos. Onde as lojas sociais e as diferentes instituições solidárias não têm mãos a medir para responder a todos os pedidos de ajuda. É claro que em Lisboa também há tudo isto. Também há uma realidade paralela aos restaurantes cheios e aos centros comerciais. Também há homens, mulheres e crianças que comem o que tiram dos caixotes do lixo e que dormem debaixo de papelões e de vãos de escada. Quem vai denunciar a verdadeira realidade deste país? Um país que já não tem para comer, mas que pára durante quatro dias e a que o Governo contempla com mais meia tarde de tolerância.