Opinião: As (más) escolhas de Costa

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Há neste país uma “escola” de governação segundo a qual a política é a arte de assanhar os pobres contra os remediados. E vice-versa, havendo ocasião. Assim sendo, enquanto o pau governativo vai e vem, folgam as costas dos que realmente pesam no orçamento de Portugal e nas vidas dos portugueses. Pois não dizia Ulrich, esse grande ideólogo da usura governativa, “ai aguenta, aguenta”?

Às vezes acontece a esperança, essa luz que nos faz enfrentar os dias acreditando que, ao trabalho que é o criador de riqueza, há de corresponder a justa recompensa: os serviços de saúde que nos segurem, a educação que nos projete, os direitos laborais que nos dignifiquem.

Ainda quentinhas, as declarações de António Costa “à entrada” das obras do IP3 fazem jus à tal “escola” de equivocados incitamentos, desanimando, por sua vez, os que se agarram à esperança de que “desta vez” seja diferente. Avisada, a Associação de Utentes e Sobreviventes do IP3 emitiu um comunicado para pôr os pontos nos iis, clamando que “o rei vai nu”. A Associação não se livrará do pau, mas em desilusão ninguém a apanha.

Se houvesse, nos relatórios de Centeno referentes à “despesa”, diferenciadas colunas, consoante se tratasse de “esbanjamento” e de “investimento”, estaria muito mais dificultada a recente tarefa demagógica de Costa. A ser assim, ficaríamos a saber que as verbas usadas para safar Banifes, BPNes e BESes são esbanjamento do mais pesado, mesmo quando mascarado de “estabilização do sistema financeiro”, gasto inútil para a vida de cada um de nós e do Portugal que seguramos, essencial apenas para a estabilidade da roleta dos banqueiros. Pelo contrário, valorizar as carreiras dos trabalhadores, a reconstrução do IP3, o SNS, a Escola, o aparelho produtivo, constitui investimento essencial por demais provado, fator de promoção deste país que cresce e acontece de cada vez que, ao Trabalho, são dadas condições e melhor viver.

O Primeiro-Ministro esteve mal. Para que tivesse sido dito o que se impõe – e conferindo valores ao que acima já se disse – António Costa deveria ter referido que para investir os 134 milhões de euros que o IP3 custará, essenciais para estancar um cortejo de mortes que envergonha Portugal, a governação não deveria ter esbanjado mais de 2200 milhões de euros no BANIF, o preço da absolvição financeira de quem arruinou a vida de muitas famílias e a economia do país. Nem deveria estar a esbanjar milhões no financiamento das PPP’s, eternos subsídio-dependentes do Orçamento de Estado, nem alimentar o negócio da Saúde à custa do definhamento do SNS. Mas não, não foi essa a determinação que António Costa revelou.

Sem ter dado conta do momento de dignidade que lhe coube viver, Costa sucumbiu à tentação de valorizar uma obra essencial a partir da desvalorização das carreiras dos trabalhadores, colocando a “função pública” à mercê de ódios primários, nada diferentes daqueles que, noutros repastos, se alimentam de vítimas por igual injustiçadas.

Haja quem aconselhe o governante: o que é digno nunca é posto em alternativa, menos ainda quando está em causa a governação de iguais.

Enfim. Nestes tempos de denúncia do “populismo”, a António Costa deu-lhe para exibir inábeis dotes no emprego do tão pernicioso (quanto eventualmente eficaz) engenho. Fez mal.

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