Opinião: Professor sofre

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A recente greve aos exames e avaliações dos alunos não passa de mais uma guerrilha político-partidária que só agudiza ainda mais o mal-estar docente e o burnout dos professores, sem falar nos pais e alunos.

Admitamos que o governo cedia às exigências dos sindicatos e contava todo o tempo de serviço em causa. O que é que isso acrescentava à qualidade da educação, ou à melhoria das escolas, ou mesmo ao prestígio e estatuto dos professores? Nada, zero.

Os professores pertencem às escolas e às comunidades educativas. É aí que se define e se afirma, ou não, o seu prestígio e o seu estatuto, a sua competência ou incompetência, os bons ou maus resultados do seu trabalho. É aí que tem de ser pensada e gerida a sua carreira e a progressão de cada um em função do seu mérito.

Uma greve centrada e tendo como fundamento a contagem de tempo de serviço, sem mais, só pode ser conduzida por burocratas – do ministério e dos sindicatos – afastados e descontextualizados das dinâmicas próprias das escolas.
A verdadeira luta dos professores não pode desligar-se da autonomia das escolas e da sua responsabilidade para recrutar, integrar e organizar a formação e melhoria em contexto de trabalho e em equipas profissionais de aprendizagem.

O que se passa fora e acima das escolas é uma luta em que os professores não passam de pretexto, num jogo que os transforma em marionetas comandadas à distância. Mais uma guerrilha promovida pelos sindicatos contra o governo, seguindo a velha fórmula da “mobilização das massas”, neste caso dos professores, a estratégia desde os anos 30 e 40 do século passado, em que os trabalhadores não passam, muitas vezes, de pedras de arremesso contra o poder.

Se o centralismo burocrático do governo dispensa e impede as escolas e os professores de pensar, porque toda a organização e gestão das escolas e dos professores é pensada e decidida ao centro, no silêncio dos ministérios das finanças e da educação, os sindicatos aderem e apoiam esta marginalização, porque a sua luta não visa a qualidade da educação, nem a melhoria das escolas, nem tampouco a especialização e qualidade dos professores, mas sim combater o governo, porque comandados por partidos que não são partidos do governo.

Significa tudo isto passar uma tábua rasa pelo tempo de serviço dos professores? Não. Significa transformar o tempo de serviço na componente necessária para que o professor se integre na sua comunidade profissional de aprendizagem, que ganhe experiência no convívio e partilha com os colegas, que melhore as suas competências, que revele iniciativa e criatividade para obter melhores resultados escolares dos alunos. Esta progressão não é igual para todos. Para uns, é mais rápida, para outros pode levar mais tempo. Só as escolas e os próprios professores podem gerir este processo com racionalidade e eficácia.

Confiar a progressão ao governo ou aos sindicatos é ceder à burocracia e desistir de uma carreira de prestígio. Os professores têm de recusar o papel de simples figurantes ou de atores secundários. Cada professor tem de ser ator principal na gestão da sua carreira.

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