Opinião: Aprender enquanto ensinam, ensinar enquanto aprendem

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Li algures que alguém transporta livros num saco com a mensagem estampada: “Não me roubem, só levo livros”. Presume que o “velhaco” sabe ler. É um bom princípio! Provavelmente este imaginativo saco terá sido criado por uma empresa sediada num país desenvolvido, produzido por uma indústria numa economia subdesenvolvida e, por fim, vendido numa cadeia de lojas, nos vários idiomas da aldeia global. Estas economias são distinguíveis pelas capacidades intrínsecas para estimular e valorizar os seus ativos intangíveis, numa primeira instância representada na importância que o país atribui à educação e, num segundo nível, na abordagem dada pelas empresas à capacitação dos seus trabalhadores, reconhecendo-lhes importância como ativo das organizações. Quem optar pelo baixo nível de qualificações dos trabalhadores, fica-se pela informação. Quem aposta na ‘valorização do conhecimento’, está consciente que a liderança é dos criativos, inovadores e competitivos, dos que estão em permanente atualização e mutação.
As famílias sabem que níveis de escolaridade diferentes proporcionam acessos desiguais às carreiras profissionais. E que uma formação académica mais completa é um bilhete para ascender na pirâmide social e a possibilidade de auferir salários superiores (em 2016, a remuneração média de um quadro superior em Portugal era 3,5 vezes superior à auferida por um profissional não qualificado). Também não ignoram que, ao nível da carreira, o maior determinante no vencimento é a evolução que cada um consegue fazer com o conhecimento, nomeadamente através da valorização da sua aprendizagem e da formação constante ao longo de toda a vida. Sabem, ainda, que os benefícios individuais de uma formação qualificada vão muito para além das vantagens económicas. Por último, o país sabe do benefício imensurável que colhe da educação e, por isso, sente a necessidade de a desenvolver no pilar cognitivo (aprender a conhecer o mundo que o rodeia), no profissional (aprender a fazer ou adaptar a educação ao trabalho), no relacional (aprender a viver juntos e aprender a viver com os outros) e no existencial (aprender a ser através do desenvolvimento total da pessoa).
Se todos sabemos do valor deste ativo, porque tenta a tutela mudar a escola por decreto? Porque é que, em ‘paridade de poder de compra’, gastamos no sistema educativo dez vezes menos que a Alemanha? Porque é que as empresas não permitem e não aproveitam o desenvolvimento das competências proporcionado pela subida do nível médio de escolaridade? Porque é a nossa produtividade do trabalho a terça parte da Luxemburguesa? Porque oferecem as escolas superiores diplomas hoje desadequados para o mercado? Que dizer então das declarações do nosso primeiro ministro? Há 16 meses atrás, “No mundo de hoje, num país europeu, esse fator de competitividade assenta, essencialmente, nos fatores associados à inovação. Não vale a pena termos a ilusão que numa estratégia assente em baixos salários nós conseguiremos ser competitivos” e agora, “É mais importante contratar mais funcionários públicos do que aumentar os salários”.
A mensagem para mudar não é nova, basta juntar as letras estampadas no “saco” e foi uma das principais bandeiras de Roberto Carneiro. No inicio do século, defendeu a mobilização da sociedade educativa, enumerou prioridades para o ‘New Deal’ educativo, reforçou o foco nos quatro pilares da educação e lançou o repto da reciclagem dos adultos ativos, incluindo a dinamização do corpo docente, numa vinculação à construção de uma aprendizagem vitalícia centrada em “Aprender enquanto ensinam, ensinar enquanto aprendem”. O bilhete para o comboio desta segunda década é, afinal, o mesmo: o da ‘valorização do conhecimento’, num propósito do desenvolvimento pessoal, cultural, social, comunitário, profissional, de empregabilidade e, como seria lógico, também económico.

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