Opinião: Desaparecimentos

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Numa das últimas semanas vivi um Congresso Ibero-americano de História da Educação Latino-Americano, o XIII, em Montevideu, uma bela cidade do Uruguai, que é um pequeno país do hemisfério sul, É onde existe uma intensa vida cultural que faz viver livrarias com enormes acervos, que encantam os visitantes pela sua abundância e variedade, levando-os a comprar e a fazê-los florescer. Enquanto isso lá acontece em Coimbra a “Livraria Miguel de Carvalho junta-se ao rol de livrarias e alfarrabistas que têm vindo a desaparecer nos últimos anos”, informa-me o Facebook e o Público 1.

Junta-se o Miguel Carvalho a muitos alfarrabistas que fazem parte do meu trajeto pessoal por este nosso país, sempre em busca de uma cultura que morre em cada um destes encerramentos. Sofri assim o fecho do Luís Simões em Faro, do meu amigo Martinho numa rua quase mágica de Lisboa, a rua Nova do Almada, alguém que de vez em quando visito na Feira da Ladra e agora acontece ao Miguel Carvalho na flagelada e desertificada Baixa de Coimbra. E com este processo está em ruptura um modelo cultural que nos liga o passado, nos integra no presente mundo global e nos deve conduzir ao futuro onde nos afirmaremos como Pátria ilustrada.

É agora necessário falar das razões que nos levaram a esta situação.

São as que resultam do descalabro do sistema financeiro, provocado sucessivamente por um regulador permissivo que recorreu como inevitabilidade sempre aos sacrifícios dos trabalhadores e dos pensionistas. Fê-lo para colmatar os erros e perversões de gestão dos banqueiros, que apoiados por desatinados governos levaram a soluções que brutalizaram sempre os mais frágeis e lhes retiraram direitos à Cultura e à Educação. E essas restrições estreitaram também os mercados dos livros velhos e novos e outros bens culturais.

Junta-se a este processo de estreitamento cultural todo um processo de desvalorização da dignidade da justiça, permitindo casos como os de Rui Rangel, Orlando Figueira e o bloqueamento do processo Marquês, ou seja de José Sócrates, que provocou um processo deliberado de desvalorização da Educação ao atacar através de Ministras como Maria de Lurdes Rodrigues, profissões estruturantes da formação e fruição da cultura como são as profissões docentes.
Dir-me-ão que o mesmo acontece no Rio de Janeiro que tem na prisão dois ex-governadores, que deixaram como herança escolas em crise ao deixá-las sem recursos para funcionarem minimamente, evidenciando como governantes corruptos são um perigo real em sectores nevrálgicos como a Educação. E que, no caso do mercado do livro, fazem desaparecer sucessivamente livrarias como infelizmente nos sucede agora.

1 In https://www.publico.pt/2018/03/01/culturaipsilon/noticia/livraria-miguel-de-carvalho-fecha-as-portas-em-coimbra-1805005, cesso em 4 de Março de 2018

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