Opinião: Coimbra e o aeroporto

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Quando na região Centro se assiste a um movimento cada vez mais forte em tono da abertura da base aérea de Monte Real à aviação civil, eis que, em Coimbra, a distrital do Partido Socialista veio dar voz à ideia lançada por Manuel Machado, nas últimas eleições autárquicas, de um aeroporto internacional em Coimbra. Nas atuais condições e com estes protagonistas será uma ideia para levar a sério?

Para respondermos, olhemos para o estado da nossa cidade, de que não sendo os únicos responsáveis, são, seguramente, dos principais, atendendo ao tempo que levam de governação em democracia. Relembremos, então:

1. O aeródromo Bissaya Barreto – o tal que se quer transformar em aeroporto internacional – não teve qualquer investimento relevante nas últimas décadas que o pudesse tornar apto à atividade que é pressuposto ali realizar!

2. A estação de Coimbra B mantém-se em estado de degradação que devia envergonhar, também sem qualquer investimento relevante há décadas; ao mesmo tempo a requalificação da linha da Beira, essencial para a ligação ferroviária a Espanha e à Europa continua adiada!

3. Do Metro Mondego, ligando Serpins à linha do Norte e ao CHUC, depois de um investimento de mais de 100 milhões de euros e mais de uma centena de estudos, resta uma cratera a céu aberto, não se vislumbrando quando lá poderão ser colocados veículos (ainda que sejam autocarros!!! ) a passar!

4. A garagem de camionetas, na avª Fernão de Magalhães, lá continua pacatamente degradada à espera que ninguém repare nela!

5. A ligação em perfil de autoestrada de Coimbra a Viseu continua eternamente adiada, enquanto o IP3 assiste tragicamente a muitas mortes desnecessárias!

6. A A13 que devia fazer ligação à A1 e à autoestrada para Viseu, vinda lá do alto, morreu abruptamente nos braços do rio Ceira e ali jaz moribunda!

7. O novo Palácio da Justiça que nos prometeram há mais de 50 anos, parece agora despertar devido a um movimento cívico que não tem deixado morrer a ideia!

8. A rua da Sofia, nem depois de ter sido tombada como património da humanidade pela Unesco, há mais de 4 anos, vê serem feitas as obras de requalificação inadiáveis que a retirem da morte lenta em que se encontra!

9. A prometida ciclovia que devia ligar Coimbra à Figueira da Foz continua à espera de melhores dias e a da cidade de Coimbra vai de soluço em soluço sem fim à vista!

Dirão alguns: mas a esmagadora maioria destas obras não depende de decisão local, mas antes de decisão nacional. É certo.

Mas os exemplos que acabamos de dar servem para mostrar quanta incapacidade tem passado pela Praça 8 de Maio na defesa dos interesses de Coimbra e da região. O que tem levado a que obras absolutamente essenciais para a cidade e para a região sejam sistematicamente adiadas. E Coimbra ignorada. E o problema não está apenas nesta incapacidade. É mais fundo. É a ausência absoluta de uma estratégia para o desenvolvimento e a afirmação de Coimbra.

Para que uma obra como um aeroporto internacional pudesse ter pernas para andar era necessário ter estudos sérios e uma estratégia que a sustentassem; bem como que se criasse um forte consenso regional que a ambicionasse e a tornasse inevitável. Acontece que, não só esses estudos não existem, como esse consenso existe, sobretudo, em torno de Monte Real.

O próprio Partido Socialista, mesmo a nível distrital, está dividido, como resulta de o presidente da CIM _ RC João Ataíde defender a solução Monte Real. E mais dividido o está a nível regional.

A ideia do aeroporto, nas condições atuais e com estes protagonistas, não passa de uma ideia meramente panfletária sem qualquer credibilidade. A não ser que, afinal, o que se queira é fazer uma maquilhagem no atual aeródromo, de modo a lá poder aterrar algum “jatinho” vindo do estrangeiro, para se lhe poder chamar “internacional”!

Por isso, o que os cidadãos devem exigir dos responsáveis políticos locais e nacionais é que levem a cabo as intervenções essenciais, entre outras, sobre as matérias que antes descrevemos. E que olhem para Coimbra, de forma séria e respeitosa, como polo de investimento produtivo relevante, de modo a que o mesmo não continue a ir, como ainda recentemente se soube pela boca de António Costa, quase exclusivamente para Lisboa e Porto. E quando tal acontecer… talvez um aeroporto internacional em Coimbra faça todo o sentido e seja concretizável.

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