Opinião: Coimbra – assuntos soltos

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Norberto Pires

Jardim Botânico: li na comunicação social que o Executivo da Câmara Municipal de Coimbra pretende realizar uma ligação de autocarro entre a alta e a baixa da cidade que passa pelo interior do Jardim Botânico. Aparentemente, até já compraram os autocarros: veículos híbridos que permitiriam não estragar, nem poluir, muito. Quando li isso nem queria acreditar. Mas, infelizmente, Manuel Machado esclareceu a situação em entrevista ao DN: os autocarros vão circular “num horário de sol a sol” (o Jardim Botânico fecha os portões à noite por razões de segurança), permitindo “a circulação das pessoas, visando atraí-las para estacionar o seu automóvel nos sítios de aparcamento disponíveis na zona ribeirinha e depois irem para o trabalho ou para uma visita no Polo I da universidade”. Só me apetece dizer: Socorro!

Exploratório Ciência-Viva de Coimbra: eu gostava muito de saber o que se passou no Exploratório Ciência-Viva de Coimbra desde que foi substituída a direção anterior. Isso aconteceu no final de 2015. O que foi feito até agora? Por que razão destruíram coleções e equipamentos que tinham sido financiados por fundos europeus? Por que razão deixou o Exploratório de ter uma oficina capaz de construir equipamentos únicos? Aqueles que andam por aí a dizer aos sete-ventos que salvaram o Exploratório, salvaram exatamente o quê? E de quem? Utilizemos aqui o método científico e sejamos capazes de dizer o que foi feito desde 1992 – altura em que se criou na Universidade de Coimbra o Centro de Iniciação Científica, uma unidade já extinta, mas que foi o embrião do atual Exploratório – até hoje, colocando em perspetiva a ação e resultados daqueles que estiveram à frente do Exploratório. É isso que nos ensina a ciência: a observar, a ver com olhos de ver (“saper vedere”, como dizia Leonardo da Vinci), a avaliar e a ser justo e factual. Será que o senhor Presidente da Câmara e o senhor Diretor do Exploratório me poderiam esclarecer?

Bitaites de campanha e uma das razões porque isto não muda: quero que Coimbra seja a 3ª cidade do país, dizia um dos candidatos à Câmara Municipal de Coimbra. Que lindo! No outro dia, numa visita a uma escola, um menino dizia-me que queria ser astronauta, e médico, e bombeiro e… ah! também queria marcar golos como o Ronaldo. Não tinha muito claro o caminho que ia seguir para ser aquilo tudo, e dá-me ideia que no dia seguinte já queria ser outras coisas completamente diferentes, mas isso fazia-o feliz. Fantástico! Há um manancial de bitaites deste tipo a anunciar: a capital da saúde, a capital do conhecimento, a capital do empreendedorismo, a capital dos mais velhos, a capital dos mais novos, a capital de qualquer coisa mais que lhes venha à cabeça, etc., a melhor baixa do mundo, a melhor alta do mundo, a melhor universidade do mundo, a cidade mais empreendedora, a cidade mais amiga do ambiente, a cidade mais amiga dos animais… etc. É uma interminável coleção de grandes bitaites que pode ser usada para preencher o vazio de ideias, a total ausência de um propósito e a inexistência de uma estratégia minimamente pensada e amadurecida. Claro que depois os números do emprego, da atividade económica, do PIB per capita, da atração de empresas, da capacidade de fixar pessoas, etc., contraria essa megalomania toda, mas isso são, certamente, pequenos pormenores sem importância nenhuma. Venha lá o próximo grande bitaite.

Auto-estrada: Coimbra tem imensos problemas, certo? Na economia, na capacidade de atração de iniciativas capazes de criar valor e emprego, na capacidade de fixar empreendedores, na cultura, na educação, nas acessibilidades, na coordenação entre a câmara municipal e as várias instituições da cidade (universidade, área da saúde, empresas, etc.), no comércio, na baixa da cidade (deserta e sem atividade), na alta da cidade, etc., etc., etc., certo? Como podemos fazer para mudar essa situação? Qual é o plano? Quais são as prioridades? Qual é a estratégia? Como vamos inverter a lenta, mas contínua, degradação que observamos? Simples, basta construir uma autoestrada para Viseu. Afinal é tão simples e nunca tínhamos percebido isso.

Fantástico. E ainda há pessoas que se queixam do passado (nomeadamente de oportunidades perdidas e da incapacidade de dar passos seguros aproveitando aquilo que sabemos fazer e coordenando a ação das várias instituições da cidade), da crescente perda de influência, de que nada muda e de que vivemos numa situação de emergência em que o futuro parece ser o que ameaça ser. As soluções são, afinal, tão simples e tudo se resolve com passes de mágica e… muito dinheiro. Bolas!
É gritante a falta de visão, de ambição e de LUCIDEZ.

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