A Webhelp, que já emprega 800 pessoas em Lisboa, abriu escritórios no Porto para empregar mais de 350 pessoas. Porquê o Porto? Porque tem “Infraestruturas e recursos humanos acima da média”, disse um responsável da empresa. A “oferta de profissionais de reconhecida qualidade” é considerado por este responsável da multinacional francesa um fator essencial, reconhecendo que na cidade do Porto existe “um ecossistema muito propício” à implementação da sua atividade.
A Critical Software também inaugurou escritórios no coração do Porto, “uma cidade bonita, sexy e vibrante”, nas palavras do seu CEO. Construir um projeto como o da Critical, disse o CEO, “exige matemática, física, engenharia, gestão, organização e planeamento… mas exige muito mais do que isso… exige energia, ambição, muita criatividade. E é isso que procuramos aqui, no Porto, e nos orgulha”. O que procuramos aqui, aquilo que nos atrai, são “comunidades fortes, energizadas”, mas também “uma cidade com um DNA tecnológico, um Porto Tech-Hub que se mostra cada vez mais forte”. “Temos muito orgulho da nossa alma lusa, temos orgulho de estar numa cidade tão bonita e tão vibrante como o Porto”.
A câmara Municipal do Porto, percebendo a importância de criar comunidades, dar-lhes identidade e suporte, transformou o edifício do anterior Governo Civil num centro empresarial. Com pouco mais de 2 milhões de euros, a câmara municipal do Porto reabilitou o edifício transformando os seus seis mil metros quadrados em 66 espaços empresariais, já totalmente ocupados por 55 empresas. São centenas de postos de trabalho, maioritariamente jovens e de indústrias criativas, sem investimento público, mas com uma contribuição municipal: a facilitação nos licenciamentos e a rapidez com que ocorreram. No total, estão investidos mais de 3,5 milhões de euros num empreendimento que cria atividade económica, atrai pessoas e lhes dá condições para que desenvolvam atividade, criem riqueza e gerem emprego.
Podia continuar com muitos mais exemplos, sugerindo a quem me lê que faça um contraponto com Coimbra. Ajudo com algumas perguntas: A nossa cidade preparou-se para o investimento? Pensa pela cabeça de um investidor? Preparou-se para atrair empreendedores? Fez o trabalho de casa? Está consciente disso? Organiza o seu espaço, incluindo inúmeros edifícios urbanos abandonados, para localizar atividade económica? Pensa na baixa e no seu potencial, até como comunidade, para diferenciar a cidade relativamente a outras e com isso dinamizar ações que tenham como missão gerar atividade económica, e com isso riqueza e emprego?
No Porto, como em Guimarães e muitos outros locais, foi dada prioridade à reabilitação dos respetivos centros históricos e baixa. Procurou-se dar-lhes alma, que fossem locais onde se vive e, portanto, onde há pessoas, onde se criam comunidades e, portanto, se dinamiza bairrismo, onde se incentivam atividades económicas diferenciadoras, atrativas, cheias de boas ideias e que são capazes de fazer a diferença, mudando a sua face relativamente a um passado recente. As entidades públicas definem política, agilizam o processo de decisão e licenciamento, ajudam, promovem, criando uma parceria comprometida. O resto, acontece naturalmente.
A cidade de Coimbra, alheada do seu potencial e daquilo que se passa no país e no mundo, inebriada por um passado glorioso e, aparentemente, considerando que existem coisas que são suas por direito, ignorou por completo a economia, as empresas, não quis saber do iParque, não promoveu a diferenciação, a capacidade de atrair atividade económica, a capacidade de fixar empreendedores, e, em consequência, tem os resultados que estão à vista de todos. Resultados que só nos podem envergonhar e que colocam em causa essa ideia de que somos os melhores. E também envergonham a câmara, pois só assim compreendo que a dias do final do mandato publique um regulamento destinado a atrair investimento. É um pequeno passo, escandalosamente tardio, no sentido certo. Faltam milhares de outros passos, bem maiores, falta o compromisso pela celeridade de processos, incluindo licenciamento, falta a ideia clara de parceria comprometida, faltam equipas, falta dinamismo, falta perceber o que deve ser feito, e falta a vontade e engenho para construir uma estratégia que permita que Coimbra seja um local vibrante e onde as coisas acontecem. Porque bonita já é. Pensem nisso.