Opinião – Evolução empresarial. Involução política

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Gil Patrão

Gil Patrão

A gestão da produção sempre foi determinante nas empresas para haver sucesso, daí as teorias de Taylor sobre racionalização do trabalho, de Ford quanto à divisão técnica do trabalho e o mérito de Fayol, quando expandiu tais conceitos à área administrativa.

Essas teorias, hoje tradicionalistas mas à época vanguardistas, trataram a empresa como isolada do ambiente exterior em que operava, e dirigentes e trabalhadores foram por elas vistos de forma separada.

Seguiram-se abordagens mais humanistas do trabalho, em que Mayo e outros, se defenderam a divisão de tarefas entre quem dirigia e executava, deram crescente importância aos aspetos psicológicos e sociológicos dos trabalhadores, num imparável aprimoramento da racionalização de métodos produtivos e organizativos. Datam de então uma maior preocupação empresarial com os recursos humanos e uma atuação mais humanizada das administrações das organizações.

Nas últimas décadas, a constatação de que qualquer empresa interage com o meio exterior, que molda com a sua ação, mas de que depende e que a condiciona, fez surgir técnicas de gestão que alteraram as relações de trabalho, como a gestão da turbulência, que ajuda a superar inevitáveis imprevistos ou adversidades; a flexibilidade na organização do trabalho, que apela à corresponsabilização dos trabalhadores nos aspetos gestionários; a polivalência funcional, que permite ganhos de eficiência; o enriquecimento e alargamento de tarefas, que diversificam e tornam mais atrativo o labor; a dinamização de círculos de qualidade, que envolvem e motivam todos os trabalhadores das empresas e demais organizações. Ultimamente, teletrabalho e videoconferências alteram formas de reunir, operar, e desmaterializam postos de trabalho.

Esta evolução permanente vem ocorrendo num quadro de incessante progresso e com o apoio das tecnologias de informação e comunicação, a par duma atenção crescente para com os trabalhadores, hoje vistos como o cerne das organizações. Todavia, ainda estamos nos primórdios da conceção do trabalho como elemento estruturante da capacidade, inteligência, valia e mérito dos trabalhadores, qualquer que seja a sua especialização e competências específicas.

Hoje, profissões como torneiros, médicos, comerciantes, enfermeiros, eletricistas, juízes, padeiros, professores, pedreiros, engenheiros, mecânicos, gestores, carpinteiros, advogados e outras, são vistas como igualmente importantes para se construir uma sociedade mais justa, fraterna e menos desigual, fruto do trabalho de todos, e a sociedade moderna não tolera que se diferenciem doutores de trabalhadores braçais, sendo esta visão quase universal.

Há contudo uma exceção, que respeita à classe política. A julgar pelo que se vê, ouve e lê, para alguns políticos parece que as regras são outras, até mesmo as normas jurídicas; para outros, dar prioridade à ética dos princípios nas formas de atuar parece ser coisa obsoleta; para muitos outros, o que importa é vencer sem atender a outras opiniões, mesmo que estas defendam o povo, e vezes demais, para todos eles, os interesses partidários superam o interesse nacional.

Se assim não fosse, há muito haveria cooperação entre partidos políticos para governarem o país em sintonia. Só quando a classe política tiver honra e palavra, e quem nela votar souber impor respeito, é que todos os políticos competentes colocarão o seu trabalho, saber, dedicação, rigor e abnegação ao serviço do povo para, pouco a pouco e continuadamente, construirmos condições económicas e sociais indispensáveis para modernizarmos o país e valorizarmos o que temos de melhor. Se na tessitura política tivesse havido evolução similar à que ocorreu nas empresas, e não a involução observada, já teríamos maior bem-estar e haveria mais confiança no futuro.

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