Opinião – Os betinhos e o Syrisa

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Paulo Valério

Paulo Valério

Em Portugal, pelo menos, a narrativa nas entrelinhas da vitória do Syrisa não é essencialmente ideológica. Certo que haverá uma dúzia de românticos a suspirar por uma guinada à esquerda na política nacional, mas o que está em causa não é tanto o equilíbrio entre a esquerda e a direita, como será a própria resiliência do regime.

Há quem use a palavra resiliência para significar resistência, mas ela é muito mais do que isso. É a propriedade de um corpo recuperar a sua forma original após sofrer choque ou deformação.

E o regime democrático português tem sido assim mesmo, resiliente. Às vezes muda um pouco, mas para que tudo fique na mesma.

A questão que se coloca é, portanto, a de saber se as ondas de choque resultantes da vitória de um partido dito marginal são de tal intensidade que possam introduzir uma deformação nos nossos equilíbrios de poder, em termos que ponham em causa a sua resiliência.

Trocado por miúdos, se o “arco da governação” está em risco ou se pode continuar a fazer contas à vida como se a terra não fosse redonda. Honestamente, julgo que não corre esse risco e, paradoxalmente, o sobredito arco ficará a dever esse seguro de vida ao próprio Syrisa.

Do dia de hoje até ao reconhecimento, mais ou menos formal, de que a reestruturação da dívida é o único caminho e de que a austeridade é um deplorável equívoco, será um passo. O Syrisa – uma espécie de bala de prata da democracia grega – terá um papel determinante nesse caminho, com a Europa e a Sra. Merkel (passe a redundância) a provarem desse veneno com um sorriso nos lábios, como sempre fazem aqueles políticos com estômagos do tamanho de um autocarro (continuo redundante).

E os portugueses acabarão por “molhar a sopa” sem terem que se ver gregos, como fazem aqueles miúdos betinhos que só vão à bulha no recreio quando o adversário já está no chão. Como na Grécia, a resiliência do regime português só será verdadeiramente posta à prova quando o desespero o impuser. O oportunismo vencerá, para já, sobre a bravura. É pena, mas é assim.

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