A ignorância do meu amigo João Machado

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Júlio Marques Mota

O meu amigo João Machado de produtos financeiros derivados nada percebe ou então, se percebe, percebe apenas que foram um dos instrumentos fundamentais de onde derivou a dinâmica da crise actual.

Mas não confundir instrumentos, os meios, com os fins, os resultados, não os confundir também com as causas que permitiram esses fins, como anda por aí muita gente a fazer. Não, o meu amigo João Machado de alta finança nada percebe. Filho nascido num país católico, cedo lhe ensinaram possivelmente o milagre dos pães e se já dessa imagem se esqueceu, não sei.

O que sei é que há muita gente que essa imagem na retina mantém e por isso aqui lhe lembro o caso do BPN, em que pelos vistos até o nosso Presidente da República essa imagem conserva, a imagem de que houve o milagre dos pães que no mundo da alta finança significa que os lucros não se geram nas fábricas, nos campos, nas indústrias, nos serviços que prestam de facto serviços, não, os lucros ganham-se na circulação de produtos financeiros numa enorme cadeia de transformação, onde ponto a ponto dessa cadeia vão deixando as mais-valias que depois o sistema também garante que não são tributáveis.

Mas hoje sabe-se que, no caso do BPN, o aumento da circulação significava um buraco, um buracão, em valor tão grande como o da Madeira talvez. Hoje sabe-se que esse dinheiro por muitos recebido do bolso de cada um dos nós vai ser subtraído e mais ainda sabemos também que no corpo de cada criança com o frio do inverno neste inferno de país vai ser sentido. Não é o que diz o nosso primeiro ministro quando se refere à falta de aquecimento para as crianças do meu país ?

O meu amigo João Machado, é um dos muitos que há no país se interroga sobre esta deriva do plano ético. Que pagaram os accionistas do banco BPN? Que foi feito do dinheiro desaparecido? Se houve também quem o levantou e o não pagou, como o Bloco de Esquerda hipoteticamente admite, quem são esses artífices do buracão que todos nós iremos preencher? Que pagaram aqueles que teriam a obrigação ética de devolução dos ganhos havidos.

Essas são muitas das perguntas que pelo ar lhe passaram. E o meu amigo João Machado, quem quer que ele seja neste país entre parentesis rectos cercado, soube um dia que num país em dificuldade, em muita dificuldade mesmo, havia um Presidente que considerava que pessoa mais séria que ele não havia.

“Senhor Presidente, uma coisa se sabe, uma transacção de títulos efectuada fora de mercado, como tantas se fazem, como se fizeram recentemente com a Goldman Sachs e Facebook, é uma das operações que se fazem todos os dias, se bem que esta última tem na sua peugada a polícia, porque exactamente feita fora da bolsa e dos mecanismos de transparência que esta garante ou é presumível garantir.

E já agora ninguém pode levar a mal, sem nenhuma má intenção, que o mais comum dos mortais que todos nós somos entenda que esta transacção é especial pelas suas duas contrapartes envolvidas: a primeira, a entidade compradora pela parte do BPN, está presa e vai ser julgada, a segunda, essa, era o candidato que é agora, de novo, o Presidente de todos os portugueses.

Não, senhor Presidente, não podemos lamentar que o mais simples dos contribuintes não perceba que estas mesmas mais-valias não possam ser devolvidas ao erário público, ao Banco de onde saíram, porque, caso contrário, será cada um dos mais simples contribuintes que somos todos nós que as iremos repor e isto não é, nunca foi, dizer mal de ninguém.

Entretanto surge o buraco da Madeira. À procura de alguma luz sobre esta realidade o que vemos e lemos pelo lado das nossas autoridades é claramente uma tentativa implícita de branqueamento da questão ou então de chantagem sobre factos outros já bem passados, quando nos vêm falar com o défice no tempo de Guterres!

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