Opinião – Ao gato e ao rato

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FERNANDO SERRASQUEIRO

Portas percebeu que, num quadro de intervenção da troica, a reforma de estado resume- se a cortar nos funcionários públicos e pensionistas, situação que considera de difícil execução e com consequências nefastas para quem a promover. Por isso o pretexto da sua carta de demissão não pode ter sido a nomeação da nova ministra das finanças mas antes a sua compreensão da tarefa ingrata e impopular de cortar a curto prazo 4,7 mil milhões de euros. O ónus era enorme para quem, como ele, só vê votos para aspirar liderar a direita. Sair do governo mas deixar lá o CDS era o 2 em 1; liberta-se da pesada mochila dos cortes e defende a estabilidade governativa.
Passos Coelho, num golpe de judo, aproveita o movimento, não para o contrariar mas para o amplificar. Em linguagem popular, sintetizo, entalar. Se queres mais poder e tens dúvidas sobre a estratégia da consolidação cega das finanças públicas nada melhor do que reforçar-te as responsabilidades exatamente nas áreas mais problemáticas, memorando da troica, cortes na função pública e economia. Em resumo, dar um sinal de estabilidade numa mão e oferecer na outra um cálice de veneno ao seu principal adversário e experiente personagem a derrubar coligações PSD/CDS.,
Passos leu com atenção a carta de Gaspar, o encargo é inglório e o objetivo inatingível. Um passivo destes é um convite à sua transferência para Portas num embrulho simulado de acréscimo de poder.
A nova ministra das finanças não percebendo a jogado veio logo reivindicar que a coordenação de Portas sobre a sua área era feita lado a lado com ela. Eu diria melhor coordenação lateral! Portas não ganhou a Passos. Ambos perderam num jogo em que se vigiam um ao outro. Cavaco fala e em vez de clarificar, embrulha, baralha e volta a distribuir as cartas pelos partidos, chamando desta vez, também, o PS para a sala de corte, onde ninguém quer entrar. Enquanto brincam num jogo de casino o povo assiste a um deplorável espetáculo que mina fortemente a credibilidade de políticos que se esgotam nos torneios palacianos.
Desta crise o país perdeu e os portugueses cada vez mais desconfiam das lideranças políticas e procuram porto de abrigo nos movimentos ditos independentes. As próximas eleições autárquicas podem fazer eleger um conjunto de autarcas, fora dos partidos, decisivos para a escolha da direção da Associação Nacional de Municípios. Daí surgirá um movimento a merecer a atenção dos políticos e dos partidos. Importa olhar para o estado do país e perceber que a receita tem agravado as condições de vida e a crise piora sem fim à vista.
É urgente encontrar uma nova política e uma nova maneira de fazer política.
Para divertimento não sou adepto do jogo do gato, que espreita, e do rato, que foge, nem da apologia do monopólio, isento de impostos, prefiro mais aqueles que reconhecem o trabalho e a inovação como fonte da riqueza. Antes o Farmville, onde há lavoura e contribuintes.
Não seria melhor começar pela renegociação do memorando?

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