Opiniãp: O País que dança à chuva
Se em Portugal o verão se mede em idas à praia, na Bélgica mede-se em festivais. É um calendário paralelo: Rock Werchter, Tomorrowland, Couleur Café, Pukkelpop, Brussels Summer Festival,… e ainda os festivais de aldeia, onde uma tenda de cerveja já basta para justificar cartazes e palcos.
O curioso, visto de fora, é a resistência nacional: faça chuva ou faça sol (e chove quase sempre), os belgas vão. A chuva já não é obstáculo, é ingrediente. A lama faz parte da experiência, como se o festival sem poças não tivesse valor – é quase património imaterial belga! O kit festivaleiro envolve inevitavelmente galochas e impermeável.
Depois, há a logística impecável: comboios especiais, autocarros extra, bilhetes combinados, milhares de copos reutilizáveis que circulam como moeda. Um português fica sempre surpreendido pela ausência de improviso: aqui tudo é oficial, regulado, certificado. Não há um copo no chão!
No entanto, há algo de cativante nos festivais belgas: o país pode ter céus cinzentos e viver no caos, mas quando a música começa, transforma-se. Durante algumas horas, desaparecem fronteiras linguísticas, políticas ou comunitárias: todos dançam, todos cantam, todos erguem o mesmo copo de cerveja (reutilizável, claro). E, mesmo na lama até aos tornozelos, o belga está em casa.
Para o emigrante, fica a ironia: um país que não termina obras a tempo, não consegue organizar um Governo, mas que consegue pôr 80 mil pessoas a dançar em lama, em fila organizada, com copo ecológico na mão. Talvez aqui esteja a verdadeira identidade belga.


