Opinião: Terras raras, ou não tão raras

Os Elementos de Terras Raras (ETRs), comumente designados por terras raras, são um grupo de 17 elementos químicos, 15 do grupo dos lantanídeos, a que se juntam o ítrio e o escândio. Apesar de se designarem como “raras” estes elementos químicos não são propriamente raros em termos de abundância na crosta terrestre (continental ou oceânica), o que se verifica é que se encontram aí, dispersos e em baixas concentrações, o que dificulta a sua extração e processamento.
As terras raras são essenciais, às indústrias de eletrónica de consumo, de energias renováveis, do automóvel, de defesa e de equipamentos médicos e hospitalares, entre outras.
Na indústria eletrónica de consumo as terras raras são, por exemplo, utilizadas nos écrans LCD/LED e OLED, em discos rígidos e em dispositivos móveis como “smartphones” e “tablets”.
Na indústria de energias renováveis as terras raras são, por exemplo, utilizadas em dispositivos eletrónicos e em ímanes de neodímio usados em turbinas eólicas e drones.
Na indústria automóvel as terras raras são, por exemplo, utilizadas na fabricação de motores elétricos e híbridos de veículos.
Na indústria de defesa, as terras raras são, por exemplo, utilizadas na fabricação de tecnologias de alta precisão como radares, sistemas de navegação, mísseis e lasers de alta potência.
Já na indústria de equipamentos médicos e hospitalares, as terras raras são, por exemplo, utilizadas na fabricação de equipamentos de ressonância magnética.
Como outras matérias-primas críticas e estratégicas, referidas nos dois artigos que escrevi anteriormente, a exploração e processamento das terras raras está altamente concentrada em poucos países, nomeadamente na China, país que controla o mercado mundial desta matéria-prima crítica, circunstância que gera enormes preocupações sobre a dependência europeia em terras raras.
Apesar de vários países estarem a promover ativamente a prospeção e pesquisa de terras raras para reduzir a sua dependência da China, torna-se cada vez mais relevante, quer para as terras raras quer para outras matérias-primas críticas, o desenvolvimento de tecnologias mais eficientes de extração e processamento mas também, o desenvolvimento de projetos de reutilização e/ou reciclagem de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos de modo a se reduzir a procura em matérias-primas críticas resultantes das extrações primárias. Importa, pois, fomentar robustas e consequentes operações de mineração urbana (urban mining) e de circularidade nas cadeias de valor das matérias-primas críticas e estratégicas.
Em resumo as matérias-primas críticas das quais as designadas terras raras se incluem, desempenham um papel crucial e estratégico na atual e futura indústria de alta tecnologia bem como na transição energética e defesa e, portanto, no dia a dia dos cidadãos e das gerações futuras. Sim, das gerações futuras, pois como refere o especialista Olivier Vidal, investigador do “The French National Centre for Scientific Research”, a “transição energética terá um custo até 2050, mas, posteriormente beneficiaremos dela durante os cinco séculos seguintes.”.
Por fim e para aprofundamento deste tema, sugiro a leitura da obra: “A guerra dos metais raros – O lado negro da transição energética e digital.”, de Guillaume Pitron, publicado recentemente pela editora Zigurate.