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Opinião: Sobre brasas!

10 de março às 11h14
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O Mundo vive momentos muito conturbados. Talvez os mais conturbados das últimas décadas. O panorama mundial está longe de nos transmitir a segurança e a tranquilidade que os negócios precisam. São guerras, são pacotes de sanções,
são tarifas, são panoramas políticos dúbios.

Ainda assim, de acordo com os dados do Eurostat, no quarto trimestre de 2024, a economia Portuguesa foi a que registou a terceira maior taxa de crescimento ( 2,7%), apenas superado pela Lituânia ( 3,6%) e pela Espanha ( 3,5%). E se utilizarmos a comparação em cadeia face ao trimestre anterior, Portugal regista o crescimento mais elevado ( 1,5%), havendo numa estagnação do PIB da Zona Euro ( 0%) e um crescimento insignificante na União Europeia ( 0,1%). Numa das poucas fases em que até nos podíamos considerar exemplo no contexto Europeu/Zona Euro, eis que não quando criamos no contexto político um problema que tem tudo para nos colocar novamente em suspenso.

Não venho aqui discutir a seriedade das pessoas, a sensatez ou falta dela nos seus actos, se o correcto são moções de censura ou de confiança ou de quem é a responsabilidade em caso de eleições antecipadas. Venho discutir sim, o que a falta de confiança que tudo isto gera, tem no futuro de Portugal.

Quando tantos e tão importantes dossiers estratégicos para o futuro do País entram em fase crucial da sua decisão e execução, voltamos a ficar na dúvida sobre se quem definiu as directrizes no último ano, continuará a ter autonomia para o fazer. Novas eleições trarão com alguma probabilidade uma nova configuração das forças políticas na nossa Assembleia da República, o que terá como consequência aquilo que todos já conhecemos: decisões que se suspendem, outras que se revertem, lideranças que se substituem, nomeações que se fazem e simultaneamente empresas, entidades e acima de tudo pessoas que vêm o seu futuro em pausa. Até que o resultado eleitoral ditasse algo semelhante à composição actual em termos de governação, há sempre o tempo, os recursos e a confiança que se perdem.

Considere-se, a título de exemplo, o que se passa com a execução dos fundos comunitários. Há um desfasamento considerável entre aquilo que na presente data existe como executado e o que seria desejável. Há centenas de empresas a aguardarem parecer favorável sobre as suas candidaturas para poderem fazer os seus investimentos. Há centenas de postos de trabalho a criar que dependem de decisões das entidades gestoras dos programas. A resposta que mais frequentemente se ouve para justificar estes atrasos é ainda relacionada com a governação anterior, com a alteração da governação e com a necessidade de nomear novas chefias para as entidades de gestão. Ainda não esgotámos este argumento e tudo indica que o venhamos rapidamente a renovar. Nada pior que ao atraso e emperro se somar mais atraso e emperro.

A Confederação Empresarial de Portugal (CIP), preocupada com a essencial manutenção de condições adequadas ao desenvolvimento da actividade empresarial no nosso País, exprimiu a sua opinião dizendo algo que parece evidente: “A CIP faz um apelo às lideranças de todos os partidos com assento parlamentar para ser encontrada uma solução que evite eleições antecipadas e permita a Portugal, às empresas e às famílias continuarem empenhados na procura do seu desenvolvimento e progresso, num contexto de normalidade democrática”.

A Europa parece atravessar uma crise de identidade. O contexto Mundial já traz desafios e instabilidades mais que suficientes. Importa contribuir com confiança, serenidade e trabalho para o bem do País. As empresas Portuguesas querem continuar a fazê-lo. Os Portugueses querem continuar a fazê-lo. Com o muito que se diz em toda a comunicação social, estas parecem ser umas eleições que ninguém quer. Não as quer quem governa, não as quer quem compõe a oposição, não as quer o tecido económico nacional e nem tão pouco os Portugueses. Então, que de forma inequívoca se apure o que há a apurar, mas que os partidos políticos e as pessoas que os compõem se lembrem que é de bom tom não brincar nem com o trabalho nem com o futuro de quem os alimenta. É que isto assim, é como trabalhar sobre brasas. E sobre brasa, para mim, basta o churrasco.
*Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo
o novo Acordo Ortográfico.

Autoria de:

Christophe Coimbra

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