Opinião: O Plano de Pormenor da Estação Intermodal de Coimbra

Todas as pessoas se devem lembrar bem que o segundo concurso da primeira fase da linha de alta velocidade ferroviária, precisamente aquele que incluía a passagem por Coimbra, foi anulado porque o concessionário, concorrente único, menosprezou completamente o Plano de Pormenor da nova Estação Intermodal de Coimbra, só para que o valor a investir fosse significativamente inferior e, da mesma feita, o lucro substancialmente superior, entenda-se.
Em Julho passado, várias foram as notícias que afirmavam que o novo concurso, em substituição do primeiro, estaria para ser lançado “dentro de dias”. Inclusivamente, o Senhor Ministro das Infraestruturas afirmou que nada se alteraria do primeiro caderno de encargos, e, para tornar o concurso mais atrativo, só se eliminaria então a construção do trecho da linha entre Taveiro e Soure, que passaria para a segunda fase.
Desde então passaram mais de sessenta dias… e nada. Continuamos sem saber qual foi, verdadeiramente, a decisão. Eis-nos agora em plena campanha eleitoral.
Este não é apenas mais um tema para as Autárquicas, a par da melhoria das casas de banho da Praia do Rebolim, por muito respeito que me mereçam. Mas, convenhamos, grande parte do futuro de Coimbra joga-se no Plano da Estação Intermodal e em tudo o que trás associado. Este é, (deveria ser) o Tema das Autárquicas. E eu gostaria muito de saber, preto no branco, qual a opinião dos candidatos e das candidatas que se perfilam para a eleição.
Em 2010, tivemos já aprovado pelo governo um plano ambicioso, que previa o investimento num túnel sob o rio e uma estação mista, de alta velocidade e da rede convencional, no Loreto, cerca de 600 metros a norte da atual Coimbra B. Nessa altura, tínhamos também o plano para substituir o transporte ferroviário da Linha da Lousã por um elétrico rápido, que, do mesmo modo, se inseria na cidade e na rede urbana de transportes. Sim, nessa altura, até a A13 estava projetada para chegar à cidade em túnel, à cota baixa! Estão recordados?
Foi tudo “por água abaixo” e mais de uma dúzia de anos depois apareceram os autocarros elétricos do Metrobus e o plano para uma nova estação, desta feita intermodal, na área de Coimbra B.
Pelo meio meteu-se ainda um novo apeadeiro, aprovado pelo executivo anterior, que provocaria risadas de chacota a qualquer estação suburbana das áreas metropolitanas. Obviamente que esse arremedo de “solução” não comportaria a alta velocidade, daí veio a razão de se convidar o mesmo urbanista que fez o plano de 2010, para o adaptar às novas condições e ao novo traçado. Foi a solução possível e, na minha opinião, esta é mesmo a última possibilidade que Coimbra tem de ter uma porta de entrada decente. Uma estação que congrega as várias modalidades de transportes e que possa estar minimamente à altura dos pergaminhos, reais ou míticos, que tanta gente gosta de apregoar sempre que se fala de Coimbra. É a ú-l-t-i-m-a!
Por isso, seria mesmo imperativo que as pessoas que se candidatam dissessem de sua justiça, aquelas que a têm, se estão contra ou a favor do Plano de Pormenor para a Estação Intermodal de Coimbra. E clarificassem se o rejeitam liminarmente, se o apoiam com condições, ou se o apoiam incondicionalmente. Nos dois primeiros casos, é claro que deverão também, em meu entender, propor as soluções alternativas e dizer o tempo que elas levarão a concretizar-se.
Será que o Ministério das Infraestruturas, na senda do ex-concessionário vencedor, está também a ver se as coisas se tornam mais baratuchas em Coimbra? E Coimbra vai aceitar?
Desculpem o meu pessimismo, mas este silêncio, em período de campanha eleitoral para as Autárquicas, não prenuncia nada de bom. Por mim, se este novo plano sair gorado, tal como saíram os de 2010, já não terei mais paciência para remendos e desculpas de mau pagador. Farei como tantos jovens da geração dos meus filhos, que foram forçados a abandonar a cidade na altura. Desisto. Quanto a esses jovens não sei, mas eu jamais esquecerei o nome de todos e de cada um dos responsáveis políticos por essas sucessivas (in)decisões.
Pode ler a opinião de José António Bandeirinha na edição impressa e digital de hoje (01/10/2025) do DIÁRIO AS BEIRAS