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Opinião: Líderes e Liderança

10 de setembro às 10 h01
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Nas últimas semanas, têm-se acentuado as críticas a líderes e lideranças das nossas áreas social e política. As duas palavras não são a mesma coisa, porque há pessoas que são tidas como líderes e não mostram capacidade de liderança. Nem se nasce líder nem se torna líder quem o não é!

O dicionário define líder como uma pessoa que exerce influência sobre o comportamento, pensamento ou opinião dos outros. Walt Disney disse que “Pode-se sonhar, criar, desenhar e construir o lugar mais maravilhoso do mundo… Mas é necessário ter pessoas para transformar o sonho em realidade”. Apesar de tudo, liderar é uma escolha, exige forte predisposição, mas é desconfortável. O desejo de cuidar de pessoas e tomar a dianteira exige um esforço adicional, além das competências técnicas e outras habilidades já adquiridas ao longo de uma qualquer carreira.

Em Portugal, tal como outros países com um histórico de autoritarismo e centralização de poder (como no Estado Novo), desenvolveu-se uma certa desconfiança em relação à autoridade. Essa herança pode levar à resistência aos líderes, mesmo quando competentes, especialmente na política. Há uma cultura organizacional que não valoriza a liderança ou pode ser excessivamente hierárquica, dificultando o desenvolvimento de líderes. O chefe é sempre o “mau da fita”.

Muitos supostos líderes emergem não por mérito, mas por favores, influência ou status herdado, familiar ou político. Em muitas organizações, especialmente nas públicas ou familiares, as pessoas assumem cargos de liderança sem preparação ou apoio adequado, o que resulta em más práticas que, por sua vez, reforçam o descrédito geral pela liderança.

Portanto, ser líder em Portugal pode ser visto como um risco, pois está muitas vezes associado à exposição pública, crítica constante e pouca margem para erro. A assunção de responsabilidades é muitas vezes penalizada, e geralmente não reconhecida nem recompensada. De facto, em muitos contextos, seja na política, nas empresas, ou até em associações civis, as lideranças não são amplamente apoiadas e, por vezes, são até desvalorizadas, desrespeitadas ou atacadas, seja por ações dos superiores ou por comportamentos dos liderados.

Um estudo recente entre 500 profissionais até aos 40 anos que trabalham no setor da saúde em Portugal, tanto público como privado, evidenciou desinteresse pela liderança na jovem geração. Quase metade dos inquiridos sem cargos de chefia não ambiciona chegar à liderança. Atitude justificada pelo excesso de responsabilidade, sabendo de antemão que a capacidade de resposta pode ser limitada e há demasiado stress, Daí a preferência por trabalho individual, sem responsabilidade de coordenação de outras pessoas.

Mas dizia Jorge Paulo Lemann, economista e empresário, “Se sonhar grande dá o mesmo trabalho que sonhar pequeno, por que vou sonhar pequeno?”. A liderança transformacional é um estilo de gestão que foca em inspirar e motivar os liderados a alcançar um objetivo comum, promovendo mudanças e melhorias significativas na organização. Mas o excesso de foco em metas e a visão de longo prazo pode negligenciar tarefas importantes e detalhes do dia a dia, causando problemas na execução. A dependência do líder também pode ser um problema.

Por contraste, a liderança responsável é um conceito mais amplo, que se pode sobrepor à transformacional ao enfatizar o compromisso com as partes interessadas, a inclusão, o propósito e a responsabilidade pelos resultados da equipa, incluindo a assunção de erros. O líder atua como um modelo a ser seguido, está permanentemente com a equipa, incentivando o desenvolvimento individual e coletivo, e fomentando um ambiente de trabalho positivo e engajador. Um líder responsável considera as diversas partes interessadas (colaboradores, clientes, comunidade) ao tomar decisões.

Este assunto é hoje tão importante nas sociedades e economias desenvolvidas que muitas universidades famosas oferecem cursos e programas específicos de liderança, com a atribuição de Certificação Internacional em Liderança. São programas de “transformação pessoal e profissional que prometem contribuir para a melhoria de líderes atuais e futuros”. Também existe um em português, creditado pelo renomado Institute of Leadership do Reino Unido, e outras universidades nossas oferecem cursos intensivos de liderança.

De um destes programas extraio, como conclusão: “A liderança é paixão e desafio. É paixão porque permite prosseguir objetivos que, de outro modo, seriam dificilmente alcançáveis. Pode ser uma fonte de progresso, para o líder, os liderados, a organização e a comunidade. É desafio porque exige esforço e sabedoria, amor e exigência, controlo e liberdade, empatia e distância, coragem e prudência, perseverança e capacidade de interromper cursos de ação, humildade e ambição”.
Bem precisamos de gente assim no nosso País. Mas não é para todos!

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