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Opinião: Estado mal orientado

31 de maio às 10 h45
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O Estado mal gerido é como uma criança mal orientada. A ideia que tenho do ensino dos animais e a aprendizagem das crianças tem similitudes, quer na necessidade de feedbacks, quer na obrigatoriedade de repetições. Não há habilidades, ou sabedoria sem esforço, sem exposição, e sem frustração. Talvez por isto, aprendi com alguns colegas que não há aprendizagem sem drama. Nada de exageros, mas tenham a certeza de que ninguém melhora sem crítica e sem observação de exemplos. O modelo é uma forma de se incutir uma maneira de estar.
As casas sociais são uma benesse da sociedade para cidadãos que tiveram dificuldades em determinado momento. As casas sociais são um benefício para apoiar mães com baixos salários, para facilitar a vida de doentes, para construir bengalas sociais a quem está coxo para arrancar. Tem de haver vigilância sobre estas dádivas, tem de haver vistorias temíveis para quem abusa, decisões radicais para quem opta pelo estrago. A realidade é que todos pagamos as benesses sociais e por essa razão elas não podem ser um maná. Por cada beneficiário há outros que na lista de espera aguardam sem ajudas. Somos Deus na escolha de quem recebe os benefícios e por essa razão temos de ser claros, coerentes, absolutamente inflexíveis pois a oportunidade de uns é a espera e o sofrimento de outros. Demagogia é o canto da cigarra que se esquece de armazenar para as horas difíceis.
Votei como vereador da oposição medidas mais duras que as do governo da Câmara. Para mim um pedreiro que recebe uma casa com renda de vinte euros e pede ajuda para pintar a parede da sua vantagem social é um abusador. Ele sabe resolver o desgaste da casa que o Estado lhe coloca ao dispor. Um biltre que parte repetidamente as janelas da sua casa, disponibilizada por todos nós, tem de as substituir. O Estado que exige cuidar, que vigia, que coloca ao dispor, não pode ser um modelo de destruição, de abandono, de degradação. Talvez por isso não se exige, nem se fiscaliza. O Estado tem milhões de metros quadrados de superfície abandonada pelo país fora. O Estado tem um património que podia ser fonte de atracção turística a cair, em ruínas e não se vislumbrou até agora visão. Temos pelo mundo fora um património decadente que conta a nossa história, e podíamos elevar, investindo. Temos em vias de desaparecimento os castelos figurados na bandeira. O dinheiro público é como um cobertor de solteiro numa cama de casal. Temos de escolher que parte deixamos ao frio.
O facto é que o Estado não pode estar coagido pelos sindicatos, pela demagogia social, pelas ONG, pelas fundações, pelas misericórdias, pelos partidos, pelas Ordens, pelos beneficiários de rendimentos e apoios sociais. Tem de haver políticas claras para o investimento, temos de entender as opções e temos de ser chamados a reflectir sobre elas e suas consequências. O Estado tem de cumprir o seu papel de evitar a fuga ao fisco, reduzir a fuga de capital, atrair e apoiar aqueles que optam por deixar os seus impostos aqui. Temos de ver limitar o enriquecimento ilícito e perceber como surgem milionários dos ordenados mínimos. O ónus da prova tem de passar para o prevaricador. Ou seja, para haver Estado social tem de haver um Estado que não hesita no drama, na exigência e nas estratégias de desenvolvimento. Sem um PIB crescente teremos de reduzir os apoios sociais. Sobretudo há que pensar na geração que nasceu entre 1958 e 1968 e caminha para o maior pelotão de reformados que jamais existiu neste país.

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