Opinião: Detalhes linguísticos
Sou aquela pessoa que se foca em detalhes por vezes desinteressantes para outras pessoas. E no outro dia, num comboio, dei por mim a pensar em qual vem primeiro – não a galinha ou o ovo – mas o flamengo ou o francês. Isto, nos anúncios vocais dos transportes.
É verdade, a questão linguística de Bruxelas existe nos mais pequenos detalhes. O sistema de transportes públicos é um exemplo claro disso. Naquele dia o anúncio começou em flamengo e terminou em francês. E surgiu-me a pergunta: como é que se decide qual língua vem primeiro?
A resposta está numa prática oficial que alterna mensalmente a ordem dos anúncios. Ou seja, num mês os anúncios começam em flamengo e depois seguem para o francês, e no mês seguinte acontece o oposto. Esta alternância tem uma razão muito simples: garantir que ambas as comunidades linguísticas sejam tratadas de forma equitativa. Esta alternância mensal, com que convivemos diariamente sem nos darmos conta, não é só uma questão de formalidade. Ela também reflecte a realidade da cidade, onde o equilíbrio entre as duas línguas é fundamental.
Há mesmo uma comissão linguística dedicada à questão nos transportes públicos, assegurando que ambas as línguas tenham visibilidade igual – há portanto toda uma verba e recursos humanos e materiais só para dedicar a esta questão.
Quem diria que, ao subir a bordo de um autocarro em Bruxelas, está-se também a entrar num microcosmos de políticas linguísticas?


