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Opinião: Da democracia em Portugal

31 de outubro às 11 h57
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A primeira volta das eleições no Benfica estabeleceu um novo recorde mundial, pois nela foram votar 85.422 dos sócios do clube que o poderiam fazer. É de assinalar que um clube de futebol mobilizou mais votantes do que 98% dos municípios portugueses nas últimas eleições autárquicas. Tal como em qualquer eleição para órgãos do Estado, a idade mínima de capacidade eleitoral activa são os 18 anos e o voto foi presencial. Contudo, e agora ao contrário, quem foi votar nas eleições do Benfica teve de pagar para o fazer, leia-se, tinha de ter as quotas em dia.
Se aplicarmos a taxa de abstenção das eleições no Benfica às últimas eleições autárquicas, o clube é até “maior” do que Cascais (se calhar, é por isso que ouvi na televisão que há programas eleitorais de alguns candidatos que mencionam o surgimento de um “Benfica District”). E se se confirmar o que muitos prevêem de ainda maior afluência às urnas na segunda volta, o Benfica pode ultrapassar Guimarães e Braga, só ficando atrás de Lisboa (mais de 265 mil), Sintra (acima de 162 mil), Vila Nova de Gaia (152 mil) e Porto (115 mil). Em Coimbra, só votaram 70030 pessoas.
Num dia chuvoso, pelo país inteiro, houve mais de 85 mil pessoas que pagaram para votar presencialmente na primeira volta das eleições do Benfica, às vezes esperando horas para o fazer. Há, de facto, que reflectir sobre o que realmente motiva quem vai votar. Ou, visto de outra forma, pensar e agir sobre a cultura em Portugal, a qualidade da educação cívica, a sensibilidade sobre a importância da participação na vida democrática, a hierarquização das prioridades, que pode muito bem ser, em parte, consequência da qualidade das opções políticas e dos políticos em Portugal.
Já no Bangladesh, que tem cerca de 120 milhões de eleitores registados, a taxa de abstenção nas eleições ocorridas no início do ano passado rondou os 42%, num país que tem uma população de cerca de 170 milhões (a população portuguesa ronda os 10 milhões). Mas no futebol reside uma grande diferença. O Benfica tem 4 milhões de seguidores no Facebook, enquanto o Abahani Limited Dhaka, o mais titulado clube da capital, tem somente 234 mil. Bem, é melhor pensar que, se calhar, eles são mais críquete.

Autoria de:

Paulo Almeida

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