Opinião: À Mesa com Portugal – Pastel de Nata

Nata? Pastel de Nata, se faz favor. Há muito que deixou de ser um simples pastel que é vendido nas pastelarias para passar a ser objeto de desejo, símbolo nacional, ícone da doçaria portuguesa, doce que tem vida. Não terá sido apenas porque alguém, há uns anos, o considerou como produto capaz de exportar Portugal, de dentro para fora, de fora para dentro. Se é uma marca que se vende lá fora, também é uma marca que atrai turistas. Mas é tudo mérito próprio.
E o que tem o Pastel de Nata que os outros não têm? Muita coisa… Bem, mas antes de ir por aí, quero dizer que, quando faço o “reconhecimento” de um Pastel de Nata, há dois pormenores que, em simultâneo, me prendem a atenção. Preciso encontrar a crosta levemente queimada e uma massa que se veja que abriu, ou seja, que é uma massa folhada feita a preceito. Se as bordas estão finas, eu hesito antes de comprar. Se a nata está esbranquiçada, eu nem falo, desvio o olhar. Há que entender que os doces com leite e ovos têm de ter uma crosta queimadinha, como as tigeladas ou as queijadas. De outro modo, a alteração química não foi ao ponto de caramelizar, de transformar o açúcar em algo que não seja só para adoçar.
E a massa, se não for para ser crocante, estaladiça, então o que está ali a fazer? Para isso comia-se o creme à colher e não se gastava tempo e dinheiro a fazer uma massa maravilhosa que se parte toda sempre a trincamos. É que, se o aspeto conta, o som que fazemos quando ao trincar intensifica o sabor.
E, é claro, é sempre de forma desajeitada que comemos o Pastel de Nata. Com alguma atrapalhação vivemos, por segundos, o drama de não desperdiçar nenhum bocadinho de massa, nem de creme, e de segurar, com tranquilidade, a vontade de ir à segunda dentada. Respirar entre a primeira e a segunda. Eu nunca consegui… É aí que está o pico do prazer ao comer um Pastel de Nata! Entre a massa que estala e o recheio cremoso que escorre. Entre o sal da manteiga, o doce do açúcar e a gordura dos ovos, tudo qb. Perfeito! Na maioria das vezes, o segundo nunca escapa, é que há doces que têm de se comer em dose dupla.
E porque é o Pastel de Nata tudo aquilo que ele é? Beleza. O amarelo é um consolo para o nosso apetite. Textura. Não aquela que alguém sonha e dá uns laivos, mas aquela que se trinca. Sabor. Não é o açúcar quem manda, é somente caminho para os outros ingredientes. Alquimia que aconteceu e que fez nascer a perfeição. O resto? É história que fica para outro dia.
Olga Cavaleiro,
Concordo, em absoluto, com a proficiência com que emoldurou o pastel de nata!
Mas…o pastel de Tentúgal!!!