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Opinião: 2025: um novo começo

19 de maio às 12 h52
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Quando estas palavras forem impressas, já saberemos os resultados das eleições legislativas deste Domingo. Após a eleição em Março de 2024, a normalidade democrática foi quebrada pela subsequente queda do governo da AD, em função do caso e do potencial de conflito de interesses, gerado pela empresa do Primeiro Ministro. 2024 foi um ano moderadamente favorável (crescimento do PIB em torno dos 2% e excedente orçamental), apesar num contexto geopolítico mundial de enorme incerteza, com desafios estruturais e políticos para a União Europeia.

Termos de enquadrar que a nossa economia enfrentou enormes desafios de competitividade e graves crises financeiras desde o ano 2000 até 2021, que culminaram com a crise gerada pela pandemia de Covid-19. No período de 2001-21, a nossa economia foi uma das que menos cresceu a nível mundial e o nosso nível médio de riqueza comparado com os outros países da UE (PIB per Capita em paridade de poder de compra), desceu de 85% em 2000 para 74% em 2021. No entanto, desde 2022 a nossa Economia entrou num ciclo de recuperação, com o PIB a crescer acima da média europeia, as contas públicas equilibradas, a divida pública e privada a reduzir-se, e o nosso nível médio de riqueza a aumentar de 74% para 81% da média europeia. No entanto no primeiro trimestre deste ano, o crescimento do PIB cifrou-se apenas em1,6%, em termos homólogos, uma desaceleração face aos 2,8% do trimestre anterior. No entanto, na comparação em cadeia, a economia caiu 0,5%.

São estes os dados que os modelos e cenários macroeconómicos que suportam os programas dos dois principais partidos, em larga medida sobrestimam. As previsões do PS para o crescimento real do PIB até 2029 ficam mais de cinco pontos percentuais abaixo da estimativa da AD. A coligação estima subidas de 2,4% este ano (acima dos 2,1% que estavam no Orçamento do Estado para 2025 ) e 2,6% no próximo, com crescimento de 3,2% no fim da legislatura, enquanto o PS prevê 2,3% de subida este ano e nunca vai além dos 2% de crescimento real do PIB. Assim, o modelo do PS está em linha com a previsão do Conselho de Finanças Públicas, enquanto a AD prevê crescimento maior todos os anos, e maior de ano para ano. Contabilizando as previsões a 5 anos, a AD prevê um crescimento de 15% do PIB, enquanto o PS prevê cerca de 10% de subida. Se a AD formar Governo e as suas estimativas se concretizarem, os próximos quatro anos entram para os top dos 10 melhores anos económicos de Portugal neste milénio – é preciso recuar ao período de 1998 a 2002 para encontrar um período de crescimento acelerado próximo daquele que a AD prevê.

Não tento oportunidade de entrar em análise detalhe do impacto da política fiscal, podemos avaliar o peso e impacto nas medidas propostas: curiosamente nenhum dos partidos divulga o custo estimado no seu programa oficial, mas os cálculos apontam para que o total das medidas da AD tenham um custo superior a 3.000 milhões de euros. No caso do PS é possível estimar um impacto das propostas na Habitação e Saúde têm um custo de 744 milhões e medidas referentes a Prestações e Apoios custam 270 milhões, para um total de 1.744 milhões de euros.

Após uma campanha atribulada espero que todos tenham votado e que o novo governa possa implementar um plano realista e ambicioso de crescimento, tendo o contexto das atribulações geradas pelo protecionismo e políticas cada vez mais isolacionistas dos E.U.A. e dos novos desafios de investimento na Defesa. O segredo desta governação poderá ser retirar o melhor deste contexto internacional, dado que Portugal, fruto da sua localização geográfica, segurança e cultura de abertura, pode aumentar a sua competitividade na atração de Capital Humano (que é o motor das economias modernas).

No entanto a governação terá de equilibrar 0utros aspetos da vida social: acesso à educação, saúde e justiça. São várias as divisões que observamos:
– Primeiramente entre o litoral e o interior. A incapacidade de contrariar a desertificação e a diminuição de população, cria um fosso cada vez mais profundo entre as cidades litorais e as regiões interiores. O tema da coesão e da regionalização continua, erradamente, fora do discurso político. Se juntarmos a esta discussão a crise de natalidade, encontramos os maiores desafios sociais das próximas décadas.
– Por outro lado a divisão entre valores e ideias progressistas e o conservadorismo. Sendo uma sociedade tradicional e com o jugo da ditadura, Portugal “demorou” a entrar no sec. XX. Agora, e em pleno sec. XXI da globalização económica, da individualização e do progresso tecnológico, assistimos ainda uma grande crispação à volta de temas como a cidadania, políticas de migração ou segurança. Alguns destes temas e visões, não sendo necessariamente incompatíveis, foram extremados no discurso político e em particular nesta campanha.

Olhando para os próximos anos, antevejo que o próximo governo enfrentará escolhas políticas decisivas. No imediato, o desafio de recuperação económica e da gestão dos fundos europeus exigirá políticas de reforço da capacidade exportadora e de aumento da produtividade. Espero que se consiga a desejada “coragem política” para implementar as mudanças necessárias no curto prazo, já que, como diria o economista J.M Keynes: “In the long run we are all dead”. A partir de hoje, será o tempo de (re)começar.

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