Isto não é… … um isco
“Isto” não é só mais um soundbyte ou uma mensagem que estigmatize ou incentive à discriminação.
As palavras de um candidato presidencial, têm inflamado o discurso público e dado azo a horas intermináveis de comentário televisivo. Ao condicionar desta forma a discussão, conseguiu marcar a agenda política com o tema das migrações. Com uma abordagem dicotómica, sinaliza repetidamente os migrantes como a raiz dos principais problemas no país… Voltemos então aos factos: procurarei olhar para o momento da economia e as opções políticas do Orçamento de Estado para 2026.
A economia cresceu 2,4% no 3º trimestre, em termos homólogos, e 0,8% em cadeia, segundo a estimativa rápida divulgada pelo INE. A recuperação do crescimento, a estabilização das cadeias de valor e redução da inflação, permitem antever alguns sinais positivos para 2026. Neste contexto a análise à proposta orçamental mereceria um artigo mais longo, mas tentarei frisar as principais opções políticas. O governo prevê um crescimento de 2,3% e um excedente orçamental de 0,1% do PIB, impulsionado por medidas como a descida do IRC para 19% e o aumento do salário mínimo para 920€. Para além da já anunciada descida gradual no IRC, o documento não contempla grandes alterações no IRS: é efetuada a normal atualização dos escalões e uma redução das taxas nos escalões intermédios, para além da continuidade do IRS Jovem.
Na vertente da despesa a grande alteração é para a Defesa, onde se inclui um reforço do investimento em 772 milhões €, o que representa um aumento de 25%. Este aumento significativo não é inesperado, pois está alinhado com o compromisso conjunto dos aliados na NATO, face às ameaças russas ao território europeu.
É importante recordar que o setor militar vai para além dos soldados ou efetivos nos diferentes ramos, pois inclui também as indústrias que fornecem os sistemas de defesa, e que hoje em dia comtemplam o que podemos de apelidar de “guerra híbrida”. Como tem sido noticiado amplamente, os ataques são agora também dirigidos a sistemas críticos e infraestruturas como as redes elétricas, comunicações ou o sistema financeiro. A defesa é hoje muito mais centrada em antecipar e combater estas operações de sabotagem física e ciberataques.
É assim neste contexto que poderemos impulsionar o ecossistema português, pois a nossa indústria tem capacidade de adaptar várias tecnologias para o “dual-use”: partindo de um uso civil e adaptando-as para as exigências militares. O exemplo da Tekever mostra que a capacidade de adaptação rápida é a alavanca que pode transformar alguns empresas em referências globais, e cabe ao poder político investir naquelas que são áreas prioritárias para os sistemas do futuro. Destaco: a ciberdefesa, as tecnologias espaciais e sensores para vigilância (em particular marítima) e os veículos autónomos.
Esta é uma oportunidade ímpar. O Ministério da Defesa deve procurar não apenas a modernização das nossas Forças Armadas, mas focar-se num duplo benefício: melhoria na capacidade (física e digital) para as funções de defesa nacional e soberania, e crescimento na cadeia de valor da indústria nacional.
Isto é real e necessitamos ações imediatas.

