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Fazer é o novo dizer

03 de novembro às 11 h30
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Às vésperas da tomada de posse em Coimbra, a lição vem dos Alpes: rigor, imaginação e alma não são opostos, são complementares.

Na Suíça, esta semana, voltou a discutir-se o que distingue países estáveis de países estagnados: a capacidade de equilibrar disciplina com imaginação. Enquanto o governo reforçava o investimento na indústria criativa e tecnológica rumo a 2028, o Parlamento debatia a escassez de medicamentos e a pressão sobre os serviços públicos. Tudo com a serenidade helvética do costume, sem alarme, mas com método. Mesmo os mais organizados enfrentam o dilema entre preservar o que funciona e ousar fazer o que falta. Entre o conforto do passado e a urgência do futuro. Foi aí que me lembrei da minha Coimbra.

Na próxima semana, toma posse o novo executivo municipal, liderado por Ana Abrunhosa, herdeiro de uma cidade com alma e prestígio, mas também com fadiga acumulada. Uma cidade que ainda inspira o país, mas que precisa de mais direção e menos decoração, mais propósito e menos espetáculo. A comparação não é forçada. Em qualquer latitude, governar é decidir com clareza e servir com humildade. E o que falta a muitas cidades não são ideias, são prioridades. Vejo, aliás, razões para acreditar que este novo executivo compreende à partida o essencial. Porque não se trata apenas de mudar rostos, mas de mudar ritmos, e há sinais de que essa mudança começou. Coimbra precisa de quem entenda que governar é um verbo de ação e não de pose.

Três princípios parecem estar já no ADN da nova equipa: 1) Transparência como método. Não se governa com promessas vagas. Governa-se com prazos, métricas e prestação de contas. O povo não dorme e quer saber quando, quanto e quem. 2) Serviço como vocação. Inovar não é pintar fachadas. É resolver o quotidiano: o autocarro que chega, o buraco que se tapa, a escola que reabre. A modernidade mede-se no dever cumprido. E por último, 3) Ambição sem arrogância. Coimbra pode ser cidade-ponte entre cultura, ciência e Europa. Mas só é grande quem não se esquece de ser próximo. O poder que se afasta das pessoas transforma-se em caricatura de si próprio. Quando o novo executivo subir ao palco, que se mantenha firme ao motto: as cidades não mudam por decreto, mudam por exemplo. E que, entre o discurso e o gesto, saiba sempre escolher o gesto. No fim do dia, governar, em Coimbra como em Berna, é essencialment isto: cuidar. E cuidar é a forma mais inteligente de fazer política.

Autoria de:

Rui Duarte

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