Especialista defende mais investigação sobre a canábis medicinal
A coordenadora do Centro de Estudos e Desenvolvimento dos Cuidados Continuados e Paliativos da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) defendeu hoje mais investimento na investigação das potencialidades terapêuticas da canábis medicinal.
Em declarações à agência Lusa, Marília Dourado considerou que a canábis “tem muitas potencialidades”, pelo que é necessário investir na investigação para as identificar e para confirmar conclusões de alguns trabalhos que surgem e “que não têm robustez suficiente”.
“Ainda há muita coisa para se fazer, muita coisa para se descobrir e para se confirmar, porque medicina e farmácia são ciências e, como tal, têm de assentar os seus processos e a sua intervenção num conhecimento sério e cientificamente avaliado”, disse a investigadora.
Para Marília Dourado, que é uma das responsáveis da 1.ª Conferência Nacional de Canábis Medicinal, a decorrer no sábado no auditório da FMUC, “é preciso avançar, fazer investigação e trabalhos randomizados e controlados, para que o resultado seja robusto”.
“Não vale nada o que vou dizer sem haver uma confirmação, mas, em potência, [a canábis] poderá ter o impacto positivo na doença oncológica, porque há autores que dizem que estas substâncias podem, por exemplo, bloquear o crescimento das células cancerígenas ao inibirem as vias de transmissão de sobrevivência e de proliferação celular”, revelou.
Além disso, pode “inibir a produção de novos vasos e, portanto, ao impedir a angiogénese, vai dificultar a metastização”.
“Há outros [estudos] que dizem ainda que também tem um efeito muito importante na ativação da apoptose de células cancerígenas, poupando aquelas que são as células normais, o que pode ser a cereja no topo do bolo”, sublinhou.
A coordenadora do Centro de Estudos e Desenvolvimento dos Cuidados Continuados e Paliativos da FMUC salientou que produtos terapêuticos à base de canábis já são usados em doentes oncológicos, nomeadamente no tratamento de náuseas e vómitos induzidos pela quimioterapia.
“Ora, se os usarmos para controlar e tratar esses sintomas e, ainda por cima, tivermos uma intervenção positiva na doença, ao impedir a sua progressão e a sua disseminação, veja-se as potencialidades, mas como digo, nada disto está provado nem cientificamente validado”, disse.
A 1ª Conferência Nacional de Canábis Medicinal é organizada pelo Observatório Português de Canábis Medicinal em parceria com a FMUC, com o objetivo debater e partilhar o conhecimento das propriedades e usos terapêuticos dos canabinoides, estando inscritos 250 participantes.
Segundo a investigadora Marília Dourado, a iniciativa é de âmbito nacional e dirigida a médicos, enfermeiros e farmacêuticos, bem como a estudantes destas áreas, com o objetivo de proporcionar “uma discussão muito séria e baseada naquele que é o conhecimento científico acerca da matéria”.
“Isto é uma discussão séria de ciência, em que queremos motivar e estimular as pessoas a entrarem neste mundo de investigação científica séria e validada, o que não é fácil, mas não é impossível”, sublinhou.
A conferência vai abordar as seguintes temáticas: “A canábis medicinal e o direito”, “Evidências clínicas da terapêutica com canabinoides em epilepsia”, “A terapêutica canabinoide no alívio da dor crónica oncológica”, “O uso da terapêutica com canabinoides em cuidados paliativos”, “A canábis e a saúde mental” e “Investigação científica em canabinoides – Estado da Arte”.