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E agora?

06 de novembro às 12 h00
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As tristíssimas cenas a que temos assistido ultimamente, quer nas televisões quer na Assembleia da República (a Casa da Democracia, diz-se) devem merecer uma enorme reflexão sobre o que conduziu o país a este estilo de taberna, como já lhe ouvimos chamar.

Dir-me-ão que estamos perante um fenómeno que assola o mundo e que nos faz entrar portas adentro os Trump, os Netanyahu, os Órban, mais o estrupício e outros e outros.

Com efeito, pouco se cuida da educação para os valores democráticos que são, certamente, a grande arma de defesa de um mundo em fase de descontrole e onde diariamente se veem os líderes preocupados com a compra de armas, com os drones, com os ensaios nucleares. Até que ponto a educação dos dias de hoje contribuiu para este momento? Até que ponto a escassez de professores tem a ver com o clima se espalha nas escolas e na sociedade?

Já aqui o disse várias vezes: a UNESCO avalia a falta de professores no mundo (quer em países desenvolvidos, quer em países em desenvolvimento) em cerca de 44 milhões, o que ameaça a qualidade do ensino, o futuro dos jovens e o seu entendimento de um mundo mais sereno, mais solidário, mais respeitador dos direitos e dos deveres de cada um.

A despesa adequada com a Educação desempenha um papel crucial no desenvolvimento de uma sociedade mais fraterna, de valores, de princípios a qual, manifestamente, tem desaparecido nos tempos atuais.

A democratização do ensino em Portugal com o 25 de abril, a mudança de disciplinas e de métodos, os sucessivos momentos de reorganização das bases fundamentais da escola, permitiram viver períodos de entusiasmo e de crença na escola democrática.
A escola empenhou-se na defesa dos valores democráticos e ajudou a defendê-los perante alguns ignóbeis ataques que ocorreram nestes cinquenta anos. Seguramente que nem sempre o fez com o vigor devido, abrindo brechas por onde hoje entram os inimigos da democracia. Com o tempo foi-se aligeirando o empenho e dando-se ouvidos a quem criticava os programas, os métodos, as exigências (poucas, muitas vezes), amolecendo a defesa de uma escola democrática.

Entretanto, a sociedade passou a ver a escola com outros olhos, os tempos pediam que as famílias encontrassem um local de acolhimento dos seus filhos; para além de ser um espaço de diálogo e de aprendizagem tornou-se no recreio, no preenchimento dos tempos livres, com crianças e adolescentes a chegarem à escola às 9 e a saírem às 19. As famílias alienaram parte importante do seu papel e a sociedade foi-se desenvolvendo de modo pouco controlado.

Repetiram-se fenómenos com nomes novos (o bulling), com acusações à escola, aos funcionários e aos professores. E estes últimos foram rareando, procurando outras soluções de vida, a profissão de professor foi-se desprestigiando, as exigências diminuíram. Chegamos aqui.

Estamos agora perante uma sociedade que dá valor ao individualismo, ao liberalismo económico, ao nacionalismo. E ouvimos um ministro (Leitão Amaro) dizer que com a aprovação da legislação sobre nacionalidade “Portugal ficou mais Portugal”!!!Para além da ignorância de História do ministro fica a preocupação com o que está por detrás das suas palavras.

A escola demitiu-se da sua verdadeira função de educar para os princípios e para os valores, afugentando muitos dos que nela podiam trabalhar e dar importantes contributos para, de facto ajudar à construção dessa sociedade de gente solidária, fraterna e respeitadora da liberdade. Ainda vamos a tempo de inverter a marcha racista e fascista que assola diariamente. Mas vai ser dura e difícil a tarefa. Ajudemos a que os povos virem as costas ao ódio e ao racismo, como esta semana dizia um político dos Países Baixos depois de conhecidos os resultados de uma eleição intercalar naquele país.

Autoria de:

Linhares de Castro

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