Opinião: Herança
Pinto Balsemão deixou-nos uma herança que não podemos desbaratar. Feito o luto, temos a obrigação de honrar essa herança com força redobrada. Existe unanimidade sobre o seu legado: foi um acérrimo defensor da liberdade de expressão e fundamental, na política e no mundo empresarial, para que essa liberdade fosse consolidada como um direito de dar uma opinião não censurada e de receber ou transmitir informações e ideias sem ingerência de quaisquer autoridades públicas e sem considerações de fronteiras.
A liberdade de expressão é um pilar das sociedades democráticas, permitindo-nos manifestar ideias e opiniões e possibilitando o diálogo e a pluralidade de pensamentos. Neste contexto, o jornalismo exerce um papel indispensável ao transformar essa liberdade numa prática social por meio da difusão de informações e do escrutínio a que qualquer poder deve estar submetido. Tudo crucial para garantir um regime democrático.
Ainda antes de John Stuart Mill ter defendido que o livre debate de ideias é a única forma de alcançar a verdade e o progresso social, no seu livro “Sobre a Liberdade”, já Alexis de Tocqueville tinha sublinhado, na obra “Da Democracia na América”, que a imprensa livre é o “contrapeso necessário” ao poder político, pois permite que os cidadãos fiscalizem os seus governantes, concluindo que o jornalismo é o instrumento que concretiza a liberdade de expressão no quotidiano democrático.
Nesta hora da partida de Pinto Balsemão, temos a responsabilidade de enfrentar os desafios que comprometem a saúde da nossa democracia. A disseminação de desinformação e a manipulação algorítmica das redes sociais não são as únicas ameaças à liberdade de expressão e ao jornalismo, logo, à própria democracia. Esta é também a hora de abraçar com cada vez mais força o direito à palavra, de proteger o direito à participação política, de proteger uma democracia que acolhe e incentiva a liberdade de expressão e o jornalismo sem algemas.


