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Opinião: O Parque das Abadias, Figueira da Foz

04 de setembro às 10 h19
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No regresso da interrupção estival, no meio de campanhas eleitorais, depois de fogos dramáticos, com notícias que confirmam futuros difíceis e um retrocesso sentido nas políticas ambientais, tanto a nível internacional como europeu, apetece falar de bons exemplos.

O Parque das Abadias é uma demonstração de bom urbanismo, no respeito do ambiente e das pessoas. É um espaço muito agradável, sereno, procurado. Mas é mais do que isso. Surpreendentemente, ou talvez não, lá encontramos a figura do Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles na sua génese. O parque foi pensado por Alberto Pessoa no âmbito da urbanização para fazer a ligação entre o Bairro Novo e o Bairro Velho, na primeira metade dos anos sessenta.

Não está exactamente como pensado pelos criadores mas continua a ser um exemplo claro de um pensamento integrado para o usufruto urbano. Primeiro, trata-se de um vale que, com qualquer chuvada, colhe água e a despeja transbordando a vala/ribeira central, e inundando durante umas horas. Pois, inundando. Mas, como não há estruturas que possam ser afectadas, casas, etc, não há problemas, não há tragédias. Os equipamentos e as habitações estão nas margens, mais altas. A ribeira não foi fechada e tapada.

Por isso não causa desmoronamentos. As inundações não são perigosas por si, só o são quando há habitações nas zonas de inundação (acho que o paralelismo com as habitações dispersas no meio de «floresta» sujeita a fogos não é rebuscado). Se não houver habitações, não há risco, a água sobe e, como o terreno não é impermeabilizado, desce facilmente, recarregando o nível freático, sem dramas, sem tragédias. E o espaço é, fora desses pares de horas anuais, utilizado para passear, para correr, para ler, dormir, piquenicar, falar, jogar, etc.

E, na ignorância de quem o frequenta, tem uma presença de vida bastante surpreendente. Uma população de rã-verde que se faz ouvir. Sendo que esta espécie tem sofrido em muitos locais com a chegada do invasor lagostim-vermelho. Mas também uma população surpreendente de Sapo-comum. O que deve juntar as Abadias ao restrito Clube de Parques Urbanos com Relevância para a Biodiversidade de Anfíbios! (é um clube fictício que existe na minha cabeça).

Prevê-se o seu tão esperado alargamento, aproximando-o da ideia original. Esperemos que sim. E que mantenha as características.

Fica o convite, venham visitar e, senhores autarcas, venham ver como se faz, os Arq. Alberto Pessoa e Ribeiro Telles não se importarão, acredito, nem os figueirenses.

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