Opinião: Fechar a cortina de agosto

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Depois de um mês de Agosto bem cheio de notícias, aqui estamos de volta para a “rentrée” e alinhar o fio das notícias. Passarei como um rio, sem demora nas referências mais relevantes que surgiram nas águas.
Vou ao encontro do Papa Francisco – que considero um líder global muito difícil de encontrar com a dimensão deste Homem – e passeio pela Jornadas Mundiais da Juventude, realizadas em Lisboa, passo pela declaração do Papa Francisco que à chegada se declara peregrino da esperança em Portugal e que em Lisboa diz encontrar inspiração para enfrentar as grandes questões da Europa e do Mundo!… No oceano da História, apontou-nos para a navegação num momento tempestuoso em que se sente a falta de rotas corajosas para a Paz. E talvez até no seu habitual espírito de diálogo, a Francisco não lhe faltaram perguntas acerca da navegação necessária, acerca desses percursos para a Paz!…
No acompanhamento generalizado que fiz da sua estadia em Portugal, encontrei jornalistas, escritores, intelectuais, não católicos e não crentes, que afirmaram “assinar por baixo” do que o Papa Francisco dizia. Encontrei globalmente, nas imagens e reportagens que acompanhei, a vontade de os jovens espalharem a alegria que sentiam e a vontade de partilha que aceitaram fazer de modo a serem ouvidos os desafios do Papa!… Papa que, muito espiritualmente, deixava ecoar, em muitas línguas do Universo, os gritos “todos … todos … todos …”, gritos de grande veemência acrescentados a outros onde era pedido “não tenham medo” numa referência “às pedras no sapato”!…
Francisco é fiel ao Evangelho, não esqueceu os mais ostracizados quando não escondeu (ou fez até questão de mostrar ao Mundo) a rebeldia (quiçá miséria) do Bairro da Serafina! Mostrou-se próximo dos mais frágeis e não fugiu ao tema das vítimas dos erros da Igreja e à acusação dos culpados na Igreja Católica, afirmando-a uma “Igreja sem portas”!…
A reflexão sobre aqueles dias de Agosto pede-nos (pelo menos a mim) que tudo não seja fugaz, que o eco de tudo o que aconteceu perdure, para não trair a sua beleza!… E termino a reflectir também nas palavras de Francisco, palavras que gostava que fizessem eco no meu País: “Vivemos numa hipocrisia em que vivem as suas elites e a classe política com outros decisores. As igrejas põem bandeiras sobre coisas que Cristo nunca disse e erguem muros internos”.
E Agosto lá continuou desenrolando notícias: Desde o futebol feminino, que a Espanha deveria festejar como vencedora do campeonato do Mundo e, em vez disso, só falou de “Rubiales e o beijo” … festival fotonovelístico também a entrar pelas nossas casas por todos os canais de TV, durante dias seguidos … “fait divers” para não pensarmos nos graves problemas que urge resolver e darmos férias aos nossos “responsáveis políticos”; Até à estupefação dos comentários descritos e desenvolvidos nos “mídia”, envolvendo o Presidente da República e o Primeiro Ministro numa confusão de um “diz-que-diz” … “é confidencial” … “foram mentiras” … e, o pior de tudo, envolvendo um orgão de Soberania que não me recordo de ver alguma vez desrespeitado, fosse qual fosse o Presidente da República: O Conselho de Estado!…
O ambiente que os portugueses partilham no seu País é por vezes incomodativo. Não existe uma matriz política sólida e ética que faça com que os Homens que da política se ocupam o façam com respeito, sejam quais forem os campos e os lados do seu “desenho político”. Será que um Homem que desempenhou funções de Estado durante vários anos não tem o direito de usar a sua liberdade e os instrumentos de análise e crítica no seu País?! É a sua reflexão, goste-se ou não se goste. Entendo como legítimo que um antigo estadista publique as suas memórias, discuta o que fez ou o que não fez e deveria ter feito, concorde-se ou não se concorde. E não aceito que uma “esquerda” política, que em Portugal dispara para todos os lados entre os partidos que a compõem, sofra um choque, descole dessa realidade e passe a ter um único alvo: Aníbal Cavaco Silva!
Fecho a cortina de Agosto dizendo, com desencanto, que houve muitas narrativas inúteis, “narrativas de passatempo”, sem qualquer interesse para a Paz, a Segurança, e o Desenvolvimento sustentável do País. Nesta “rentrée” pós-Agosto, faço votos para que termine tanta falta de respeito dos políticos de uns para com os outros e, sobretudo, para com o seu Povo.

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