Opinião: Sobre o TikTok e a adição dos miúdos (e não só)

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É interessante olhar para as pessoas nas mais variadas circunstâncias sociais e ver o seu apego ao telemóvel. Mesmo em contextos profissionais é vulgar a falta de foco: estarão, certamente, a resolver pendentes de outras reuniões/tarefas, tornando as questões que não forem resolvidas nesse momento em novos pendentes e numa imensa bola de neve que, regularmente, nos soterra e asfixia. A falta de foco pode ser uma das maiores causas de baixa produtividade. A falta de planeamento é outra. Deixando que as urgências de outras pessoas se intrometam no que tínhamos planeado fazer, misturando isso com a nossa distração do que é importante e prioritário, será a receita do desastre… Regularmente as pessoas constatam que não têm tempo para as tarefas que lhes são atribuídas, para os amigos, para a família, para fazer exercício, para aprender novos temas… Havendo cada vez mais opções para resolver tarefas rotineiras, como chegámos a este labirinto? O que estamos a fazer para sairmos dele?
Classifico o TikTok como a pior das redes sociais mais vulgares, para além de ser algo, no mínimo, perigoso. “Percebendo” o que nos interessa, alimenta indefinidamente a nossa curiosidade. Vejo isso nos adultos, capazes de perceberem que foram apanhados numa armadilha… Vejo isso nos mais jovens, porque o TikTok é a rede social deles… A máxima é conhecida: “quando não pagamos pelo produto, o produto somos nós”.
A análise anual “O que acontece na Internet num minuto” inclui o TikTok em 2021 com 5000 downloads por minuto, passando, logo em 2022, a 167 milhões de vídeos vistos. Os vídeos curtos de poucos minutos criam vícios e tendências, algumas delas extremamente perigosas (quem não se recorda do disparate de pessoas se filmarem a conduzir de porta aberta e parcialmente fora do carro?). Os pais não conseguem controlar esta máquina trituradora-TikTok, porque esta luta de David contra Golias não foi concebida para desligar, muito menos para ser ganha por pais de bom senso… E é preciso não esquecer que nesta rede vale tudo! As novas regras que a União Europeia está a preparar para que as redes sociais que aqui operam sejam obrigadas a cumprir princípios éticos e valores talvez venham colocar alguma ordem nesta loucura. Novos desafios vão surgir: as equipas inventoras de novas estratégias de manipulação não nos vão deixar respirar.
Kate Winslet usou o discurso de agradecimento do BAFTA TV Awards pela série “I Am Ruth” que relata os esforços de uma mãe para gerir a sua filha adolescente viciada em redes sociais, para “colocar o dedo nesta ferida”: “queremos os nossos filhos de volta”, não se deixem manipular por estes algoritmos, somos nós quem decide quando desligar. Li que os filhos dela não têm telemóvel. Não serão aliens (mas quase!) neste planeta onde há muito passou a ser moda vemos os bebés a comer com um tablet à frente. Mafalda Anjos, Diretora da Visão, na sua crónica “A estupidificação digital” (Visão n.º 1576, 18-05-2023 ) refere o trabalho de Michel Desmurget (especialmente o seu mais recente livro, “Fábrica de cretinos digitais”) sobre os nativos digitais estarem a contrariar a progressão expectável do QI, esperando-se, pela 1.ª vez, que uma geração tenha QI inferior ao dos pais. Só conseguiremos vencer Golias se não formos parte desse produto, se boicotarmos essas redes, se formos nós a assumir o controlo e não o contrário. E só lendo, estudando e aprendendo poderemos construir as nossas próprias opiniões e decisões de forma consciente.

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