Nelson Oliveira está na elite do ciclismo há 13 anos

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Está desde 2011 no World Tour, escalão máximo do ciclismo profissional. Ao fim de 13 anos, o que é que mudou?

A motivação que tenho é igual à primeira época que fiz no World Tour. Na altura estava RadioShack, uma equipa que, por acaso, tinha mais três portugueses. Neste momento, já não sou um jovem, mas a vontade de estar em cima da bicicleta e poder ajudar os meus colegas de equipa é exatamente a mesma.

Como é que recorda essa sua primeira época no World Tour, numa equipa em que estavam também os portugueses Tiago Machado, Sérgio Paulinho e o Manuel Cardoso?
Recordo muita coisa. Foi muito bom e importante ter tantos ciclistas portugueses ao meu redor no primeiro ano em que estive no primeiro escalão internacional de ciclismo. O Sérgio, o Tiago, o Manuel e os membros do staff José Eduardo, Francisco Carvalho e o José Azevedo ajudaram-me muito na minha integração na equipa e ensinaram-me muita coisa. Foram todos fundamentais na minha carreira.

E ao fim destes 13 anos de World Tour, com 33 anos, o que é que mudou? Corre de maneira diferente?
Sim, a experiência que temos muda a forma de corrermos e ajuda muito. Quando somos mais novos estamos a pedalar sem saber estar colocados no pelotão, acabando por gastar muita energia que nos poderá ser muito útil noutro momento. Hoje em dia, sei perfeitamente onde me posicionar e quando e quanto é que posso gastar de energia em cada parte da corrida. Todos estes pormenores acabam por ajudar a que eu e a equipa acabemos por conseguir melhores resultados.

 

“O conselho que dou sempre é para trabalharem muito e terem muita dedicação. Ser ciclista não é fácil, estamos muito tempo fora de casa e longe da família”

 

É um ciclista que dá muitos conselhos aos mais novos da equipa?
Eu estou há oito anos na Movistar, já não sou um jovem e, portanto, sim, acabo por ajudar os mais novos. O ciclismo mudou muito nos últimos anos, mas o conselho que dou é para trabalharem muito e terem muita dedicação. Ser ciclista não é fácil, estamos muito tempo fora de casa e longe da família.

No final da época passada a equipa em que corre, a Movistar, perdeu Alejandro Valverde, um dos melhores ciclistas das últimas duas décadas. Entretanto a equipa reforçou-se com o colombiano Fernando Gaviria e com o “nosso” Rúben Guerreiro. Como é que olha para a sua equipa esta época?
Claro que a saída do [Alejandro] Valverde é uma grande perda e uma grande mudança para a equipa, mas é um processo normal. Um dia serei eu a reformar-me [risos]… Mas a equipa reforçou-se muito bem. O Gaviria já venceu e o Rúben vai-nos dar muitas alegrias.

Como é que correu a pré-época?
Correu muito bem. A equipa esteve em estágio, na zona de Alicante, para conhecermos os novos colegas, para ganharmos alguma química de grupo e para sabermos os objetivos de cada um para a nova época. Neste momento, estou em estágio de altitude na Serra Nevada. Nós fazemos estes estágios para melhorar a nossa condição física e estarmos mais focados. Em casa o foco acaba por ser diferente.

 

“Quando estamos em estágio, normalmente acordamos às 08H00, tomamos pequeno-almoço em equipa e depois vamos treinar. Tanto podemos fazer 04H00 de treino em bicicleta como ginásio”

 

Como é que é o seu dia-a-dia de treino?
Quando estamos em estágio, normalmente acordamos às 08H00, tomamos pequeno-almoço em equipa e depois vamos treinar. Tanto podemos fazer 04H00 de treino em bicicleta como ginásio. Hoje, por exemplo, foi muito duro porque, além de terem sido 04H00 de treino, foi em alta intensidade.

Vai correr muitas vezes com o Rúben Guerreiro?
Na planificação eu vou estar mais com o nosso líder, o Enric Mas. Ainda assim, acho que o Rúben se vai dar muito bem na Movistar. Nas corridas que correr com o Enric acho que não vai ter muita liberdade porque terá que o ajudar, mas acredito que ele terá, ao longo da época, muitas oportunidades para brilhar.

E a sua época? O que é que tem programado?
Eu quero sempre ajudar a equipa e este ano não vai ser exceção. Mas espero ganhar alguma corrida este ano. Os Mundiais são sempre um objetivo. Este ano é em agosto, logo a seguir ao Tour, por isso devo ir em boa forma.

Em 2017 fez quarto lugar nos Mundiais de contrarrelógio. As medalhas ainda são um sonho?
Sim, ainda é um sonho ganhar uma medalha nos Mundiais de contrarrelógio. Em 2017 fiz quarto, também consegui obter um diploma nos Jogos Olímpicos de 2016, mas queria conseguir uma medalha. Hoje em dia é mais difícil. Quando eu comecei havia dois ou três ciclistas imbatíveis em contrarrelógio, atualmente os ciclistas que discutem as vitórias na Volta a França, Itália e Espanha também são especialistas e competem para ganhar nesta especialidade.

 

Qual é a sua prova favorita de correr?
A Volta a França. Desde que estive na equipa da Lampre, em 2014, tenho feito quase sempre o Tour. Só falhei em 2017 e 2018 por lesão e em 2021 porque me quis concentrar nos Jogos Olímpicos.

E consegue observar as paisagens como nós vemos nas transmissões televisivas?
Infelizmente não (risos). É muito raro termos tempo para ver as paisagens. As vezes tenho sorte e faço alguns quilómetros em ritmo baixo para recuperar para o dia seguinte e consigo ver alguma coisa.

Por falar em transmissões televisivas, gosta de ver ciclismo em casa?
Sim, gosto de ver ciclismo em casa, mas a maior parte das vezes só vejo a parte final. A não ser que seja uma corrida como o Paris – Roubaix, não tenho paciência.

E analisa a corrida ou consegue desligar-se da profissão?
Não, isso é impossível. Estou sempre a analisar o posicionamento dos ciclistas e as abordagens e táticas das equipas.

Além de ver ciclismo, o que é que o Nelson faz nos tempos livres?
Eu sou pai de duas meninas. Quando posso, quero estar o máximo de tempo com elas e com a minha mulher. Gosto de brincar com elas e ensiná-las. Mas nós não temos muito tempo, muitas das vezes somos privados de muita coisa. Não conseguimos ver os amigos, mas eles entendem.

 

“Controlo antidoping?
Todos os dias temos que informar o local onde estamos a uma certa hora. Isto acontece nas férias, na pré-época e na época. Para se ter noção, eu quando vou de férias tenho que informar em que hotel e em que quarto vou ficar”

 

O João Almeida revelou que pode ser testado a qualquer altura para saber se está dopado. Como é que isto funciona?
Nós temos um sistema, criado pela Agência Mundial Antidopagem, em que todos os dias temos que informar o local onde estamos a uma certa hora. Isto acontece nas férias, na pré-época e na época. Para se ter noção, eu quando vou de férias tenho que informar em que hotel e em que quarto vou ficar. Em Portugal, só nesta época é que os ciclistas terão que ter passaporte biológico, ou seja, estarem abrangidos por esse sistema.
É uma vitória todos passarem a ter passaporte biológico. Ou seja, o ciclista é controlado, tal com eu sou. O que se passou na época passada em Portugal no ciclismo são coisas que já não deveriam acontecer. Que o ciclismo em Portugal cresça e que se deixe de fazer jogo sujo ou batota.

 

“Estou contente pela prova da Figueira da Foz. Faz falta este tipo de provas em Portugal. Infelizmente, este ano, a Movistar não a vai correr devido ao calendário, mas queria muito experimentar no próximo ano”

 

Como é que vê a nova prova portuguesa de ciclismo, na Figueira da Foz?
Estou contente pela prova da Figueira da Foz, no distrito de Coimbra. Faz falta este tipo de provas em Portugal. Infelizmente, este ano, a Movistar não a vai correr devido ao calendário, mas queria muito experimentar no próximo ano. A prova parece ter um perfil e características muito interessantes e foi colocada numa ótima data, uns dias antes da Volta ao Algarve. Vai de certeza atrair muitas equipas do World Tour.

E a Volta a Portugal? Gostaria de a correr?
Claro que sim, mas acho, sinceramente, que ainda é muito cedo para pensar nisso.

Está há 13 anos no principal escalão do ciclismo. Qual foi o ciclista com quem mais aprendeu?
Foi o Manuel Erviti. É um excelente amigo e deu-me muitos conselhos. Como ciclista é muito completo e posiciona-se muito bem no pelotão.

E qual foi o melhor líder com quem correu?
O Nairo, provavelmente, foi o Nairo Quintana.Era muito tranquilo enquanto líder. O Alexandro Valverde também era muito bom. Os dois não punham pressão nos colegas, eram muito compreensivos.

Está em final de contrato com a Movistar. Quais são os planos?
Como disse, estou no último ano de contrato com a Movistar. Aliás, só há quatro ou cinco ciclistas que têm contrato para a próxima época. Eu gosto de aqui estar e gostaria de ficar, é como uma segunda família para mim, mas nunca se sabe…

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