Opinião: “No campo e nas bancadas”

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Ao momento em que escrevo, a seleção nacional japonesa acaba de vencer a Espanha por 2-1 no Campeonato do Mundo. Nuestros hermanos ficam-se pelo segundo lugar do grupo E e os nipónicos em primeiro, enviando a titã Alemanha, que também bateram, de mãos vazias de regresso a Berlim.
O sucesso dos “Samurai Blue”, como são aqui conhecidos, é indiscutível. Mas já em 2018 na Rússia, e em 2014 no Brasil, os japoneses fizeram manchetes durante a sua prestação desportiva. Não devido aos resultados – aquém do que esperavam – mas pelo comportamento dos fãs. Quem nunca se maravilhou ao ver os japoneses, ordeiramente e sem falha, limpar as bancadas em que se sentavam, recolher os copos e embalagens que utilizaram, ganhem ou percam?
Este louvável fenómeno, que felizmente já se espalhou a fãs de outras nacionalidades (embora ainda não as suficientes) é singularmente japonês, na mesma medida que o são o hábito de deixar as crianças seguirem absolutamente sozinhas para a escola primária, ou a despreocupação de deixar o telemóvel ou a carteira num qualquer canto de uma qualquer região do arquipélago, certo de que alguém a depositará junto da polícia ou a guardará até que o dono regresse em busca dos seus pertences.
É de facto, notável a limpeza das cidades japonesas. Mesmo quem chega de cidades europeias vê em Tóquio uma salubridade tal que quase pensa estar no set de um filme antes de as filmagens começarem. Por todo o país o fenómeno repete-se, a começar pelos meios de transporte públicos, apesar da múltipla utilização diária. Tal não se deve a dedicadíssimas equipas de limpeza que garantam a higienização das cidades (embora as haja), mas ao sentido cívico dos japoneses.
Não querendo entrar no campo de um orientalismo bacoco, é verdade e facilmente observável que um sentido de enorme responsabilidade, individual e coletiva, é incutido aos japoneses desde que, pequenos, percorrem quilómetros de mochila às costas para chegarem às aulas sozinhos e a tempo. O mesmo sentido de responsabilidade que admiramos quase na mesma medida em que o recusamos seguir.
Quer tenha origem em antigos rituais religiosos, que têm a limpeza e a dedicação como purificadoras, ou seja herança de tempos em que a obediência cega à hierarquia e aos seus ditos era incontestável, os benefícios desta atitude são inegáveis. Não podendo, nem querendo, reproduzir os métodos que a isso levaram, não nos ficaria mal pensar um pouco na sua prática atual e, como no futebol reconhecemos boas táticas que procuramos emular, olharmos também um pouco para as bancadas.

Pode ler a opinião na edição impressa e digital do DIÁRIO AS BEIRAS

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