Opinião – Lá como cá

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Já aqui o abordei há umas semanas. A queda demográfica no Japão é um problema crescente e preocupante. Segundo dados recentes, o número de nascimentos, em 2022, foi o mais baixo desde que há registos, com menos de 800 mil, num total de 126 milhões de habitantes.

As causas são diversas e complexas. Entre elas, destaca-se a intensa urbanização, o altíssimo custo de vida, a falta de incentivos ao casamento e a baixa taxa de imigração. Todos estes fatores contribuem para que cada vez menos casais desejem ter filhos, culminando numa população progressivamente mais idosa e uma queda na taxa de natalidade.

Isto tem implicações significativas. A nível económico, a diminuição da população em idade ativa e o aumento da idosa coloca em causa a sustentabilidade das contas públicas, uma vez que há menos trabalhadores para assegurar a segurança social e as pensões. A nível social e cultural, a queda demográfica está já a levar ao despovoamento de regiões do país, à diminuição da dinâmica e vitalidade das comunidades e à perda de identidade cultural. Muitas casas e vilas japonesas estão atualmente abandonadas porque não há jovens para tomar conta delas, num fenómeno aqui conhecido como “akiya”.

Para lidar com esse problema, o governo tem adotado diversas estratégias específicas. Uma delas é incentivar o aumento da taxa de natalidade, oferecendo subsídios e benefícios fiscais para as famílias que decidem ter filhos. Outra é promover a imigração, especialmente de trabalhadores qualificados, para suprir a demanda por mão-de-obra e estimular o crescimento económico. Além disso, o Executivo vem também investindo em políticas de apoio à família e na criação de novos serviços de creches e educação infantil, que permitem que as mães trabalhem sem comprometer a criação dos filhos.

Apesar de todas estas medidas, a situação continua a ser (muito) preocupante. A queda demográfica é um desafio que exige soluções complexas e de longo prazo. É importante que o governo e a sociedade como um todo trabalhem juntos para encontrar formas de incentivar o aumento da taxa de natalidade, valorizar a família e a maternidade, além de abrir mais espaços para a imigração e o acolhimento de novos trabalhadores. Somente assim, será possível garantir um futuro sustentável para o Japão e para grande parte do mundo desenvolvido, incluindo Portugal.

Aliás, basta olharmos para os dados mais recentes do nosso INE. Em 2021 a percentagem de jovens portugueses (até 14 anos) era de 13%, e a diminuir: entre 2011 e 2020 passou de 15% para 13,2%. Já a população idosa, com 65 ou mais anos, aumentou de 19,2% em 2011 para 23,2% em 2020. Em 2021, quase 24% de toda a população em Portugal estava na faixa etária dos mais de 65 anos.

Lá como cá, dá que pensar e muito neste inverno demográfico, caros leitores…

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