Às 14:46 de 11 de março de 2011, um terramoto de magnitude 9.0 atingiu violentamente a costa do Japão. Seguido de um tsunami de proporções bíblicas, o cataclismo vitimou cerca 20 mil pessoas, causou o colapso de três reatores da central nuclear de Fukushima e pesa gravemente, ainda hoje, no consciente coletivo japonês.
Portugal partilha, como todos sabemos, a história de um desastre semelhante, que nos demoliu a capital e que Voltaire eternizou no seu “Cândido”. Essa memória coletiva, de 1755 e 2011, revisitou-nos este mês, com as notícias de um novo terramoto avassalador, desta feita às portas da Europa. O Japão respondeu prontamente, enviando as suas experientes equipas de busca e salvamento para a Turquia. Habituados aos recorrentes sismos resultantes da sua zona de falhas geológicas, saberão como ninguém ajudar nesta geografia em que convergem as placas da Anatólia, Arábica e Africana. As imagens que recebemos da Turquia e da Síria chegam para percebermos que, infelizmente, não lhes faltará trabalho.
Por entre as ondas de consternação e luto, com inúmeros paralelos traçados entre os dois terramotos, há, por aqui, momentos marcantes. Conta-se, por exemplo, a história de uma equipa de trinta turcos que esteve na cidade de Shichigahama em 2011 para diversas operações de apoio pós-sismo. É apenas natural que os locais queiram, agora, retribuir a ajuda.
As lições que se podem retirar do sismo de 2011, que a tanto custo foram aprendidas, merecem consideração pelas autoridades turcas e sírias. Não só no que às buscas ou à reconstrução dizem respeito, mas também – e talvez principalmente – no que toca ao apoio às vítimas, aos sobreviventes, às famílias. O desastre atingiu o Japão em 2011, mas as réplicas emocionais perduram, e, como as ondas do tsunami, assolam ainda hoje todo o povo japonês.
PS. Deixei, em nome do Estado português, as nossas condolências na Embaixada da Turquia em Tóquio. As páginas enchiam-se em inúmeros alfabetos. Quando a tragédia destas recai sobre um povo, todos o sentimos, e todos devemos, à nossa medida, ajudar.
PS2 – Em 16 de março de 2022, chegado há apenas 4 dias ao Japão vivi uma experiência aterradora. Um grau 7 em Fukushima, um abano de 30 segundos (pareceram horas) em Tóquio. Mais do que suficiente para ver o prédio (vivemos no 11.º andar) literalmente a mover-se de um lado para o outro, os livros a caírem das prateleiras, o bairro inteiro de luz cortada e os elevadores com avisos sonoros de sismo. Um susto enorme e três vivas à fantástica construção japonesa!
Ps3 – Leio algures que desde 1958 (atualizações em 1983 e 2019 ) que é obrigatório preparar os edifícios, as pontes e as estruturas de engenharia civil, para resistirem aos sismos em Portugal. Deveríamos fazer, o quanto antes, um debate nacional sobre este assunto e insistir na pedagogia. Só há uma cidade pior na Europa, ao nível do risco sísmico: Istambul…