Opinião: Mentira conveniente. O “Qatar” em Portugal

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Num Mundo cada vez mais sensacionalista, onde imperam precipitados juízos de valor e onde proliferam justiceiros ocasionais, quase sempre respaldados pelas redes sociais, assistimos à indignação de muitos pela realização do campeonato do mundo de futebol no Qatar.
A assustadora informação que nos é veiculada relativa ao número de mortes de trabalhadores da construção civil, ou mesmo relativa à preservação de hábitos culturais bem distantes dos padrões europeus, originou um movimento popular singular que deve merecer reflexão.
Sendo obrigatório que se coloque o valor da Vida humana acima de toda e qualquer estatística, cedo se julgaram as notícias pelos títulos, sem que se tenha tido o cuidado de perceber que o Qatar tem, segundo as Nações Unidas, a mais baixa taxa de mortalidade a nível mundial, e que o número de óbitos declarados desde 2011 reporta à totalidade dos óbitos declarados na comunidade expatriada, que representa mais de 85% da totalidade da população, não tendo qualquer relação com a construção dos estádios para acolher o evento.
Querer fazer associar todas as mortes, desde 2011, seja de causas naturais, de acidentes de viação, ou de qualquer outra natureza, à organização de um evento desportivo e dai querer extrapolar para as condições laborais de todo um País é enganador e perverso. Mormente quando a critica é, muitas vezes, vociferada por indivíduos de países onde os exemplos ao atropelo pela vida humana se sucedem, obrigando-nos a questionar as reais motivações da disseminação de algo que sabemos ser mentira. Que interesses esconde ou que lóbis têm poder para fazer crer verdade esta mentira conveniente?
Estou certo de que muitos dos que se indignam com o país que acolhe o mundial de futebol ignoram que em Portugal existem milhares de imigrantes que vivem sem quaisquer condições de dignidade, constituindo verdadeiros exemplos de uma nova escravatura, cuja continuada exploração deveria obrigar a mais decoro quando se opina sobre o que não se conhece e quando se compactua com a decadente condição com que brindamos quem acolhemos.

Vamos boicotar Odemira?

Assumam-se as reais motivações da critica, condene-se a ausência de equidade, mas não se alicerce a crítica no logro.

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