Opinião: Os números da desigualdade de género nas tecnologias

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Celebrou-se, no dia 22 de abril, o 10.º dia das Raparigas na Tecnologia, “Girls in ICT Day”. É oportuno falar de números que ilustrem a presença das mulheres nas profissões tecnológicas, em especial das mais jovens, da forma como participam na tecnologia e como ambicionam (ou não) seguir carreiras nesta área.
Na União Europeia, menos de 3% das jovens adolescentes têm interesse e expectativa em ter uma carreira na área tecnológica aos 30 anos.
Apenas 17% de todos os estudantes de TIC na União Europeia são raparigas. Dessas, algumas mudam de curso e outras optam por concluir o seu grau académico, mas não trabalham na área. A desigualdade é também salarial: as mulheres em TIC ganham menos 19% do que os homens.
Dos profissionais das áreas tecnológicas, em Portugal, apenas 14,4% são mulheres ( 2017 ), número inferior à média da EU ( 17,7%) e que tem vindo a descer globalmente: há menos mulheres em TIC agora do que na década de 80. Na inteligência artificial, menos de 22% dos profissionais são mulheres. Creio que o papel de protagonista de Patricia Arquete como Avery Ryan – Diretora da Unidade de Cibercrime do FBI – na série CSI Cyber ( 2015-2016 ) inspirou raparigas a optar pela área de Cibersegurança, onde o número de mulheres tem aumentado: ainda assim representam menos de 20% do emprego.
Há muitos organismos/entidades/redes/projetos a desenvolver iniciativas de promoção de igualdade de género em TIC. Como exemplo de modelos inspiradores, o Centro Nacional de Cibersegurança lançou uma campanha com o lema “You can’t be what you can’t see/Não podemos ser aquilo que não vemos” – no âmbito do “Girls in ICT Day” – referindo-se à falta de modelos de sucesso de raparigas e mulheres nas tecnologias. É fundamental apresentar esses casos, essas oportunidades e abrir mais caminhos. À semelhança de Patricia Arquete, em CSI Cyber, ou, décadas antes, de Sandra Bullock, em “A Rede”, a representação das mulheres em séries/filmes desempenhando papéis de relevo nas tecnologias como investigadoras, líderes de projetos, programadoras, poderá fazer a diferença no momento de escolher “o que quero ser profissionalmente?”.
Prevê-se que 90% das profissões do futuro necessitem de competências digitais. Se as raparigas não escolhem estas áreas, não serão ouvidas nas decisões importantes que serão tomadas, nas aplicações que serão desenvolvidas, na forma como os algoritmos de inteligência artificial funcionarão. Continuarão a não chegar às lideranças. As raparigas não se podem excluir destas áreas, sob pena de ficarem apenas com trabalhos mais desinteressantes no futuro. Afinal, 51% da população mundial é feminina. A UE tem na sua agenda diversas políticas públicas para promoção da igualdade de género nas tecnologias. Estando o Plano de Recuperação e Resiliência tão assente no digital, esta é uma boa oportunidade para promover a igualdade de representação.
Como sociedade, temos obrigação de refletir sobre isto, quebrar barreiras, medos e preconceitos: “Isto não é para ti!”? Claro que é!

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