Opinião: Devemos celebrar o seu aniversário

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Quando celebramos o SNS celebramos os seus profissionais, todos os cuidados de saúde que prestam, preventivos, curativos e paliativos, sejam eles cuidados primários ou hospitalares, celebramos toda a investigação que nele se faz e toda a formação que ele ministra.

Não nos esqueçamos que para além da actividade assistencial o SNS intervem na formação de grande maioria dos profissionais de saúde portugueses, mesmo que estes optem por exercer a sua profissão fora do SNS, de forma parcial ou total e mesmo fora do país por múltiplos motivos, como é alias o meu caso.

Porque de facto o SNS não é só uma dádiva de saúde para os portugueses, mas também para o todo o mundo. Façamos uma conta simples, existem mais de 1500 médicos portugueses emigrados, se cada um fizer 20 consultas por dia durante 150 dias por ano, temos um total de 4 milhões e 500 mil consultas anuais, e isto sem contar com actos de medicina dentária, enfermagem e outros profissionais de saúde.

A emigração de profissionais altamente qualificados veio alterar também aquilo que é a imagem do português no estrangeiro, que já nao é só o trabalhador da construção civil, a funcionária de limpeza e o operário fabril, mas também o arquitecto, o engenheiro, o médico, o fisioterapeuta, o designer, entre tantas outras profissões. E nós somos também embaixadores de proximidade do nosso país, defendemos com orgulho as nossas origens, publicitamos Portugal como excelente destino turístico, contribuindo assim para a actividade económica deste.

Mas falemos um pouco mais do SNS, este sistema que democratizou o acesso aos cuidados de saúde, e com o qual todos temos uma relação afectiva. Todos sem excepção, em algum momento da vida, nós socorremos do SNS.

É difícil imaginar uma nação sem um sistema de saúde próprio e saudável, que estabeleça um padrão de cuidados e cubra toda a população, a espinha dorsal da prestação de cuidados continua a ser pública, nomeadamente no que diz respeito aos centros de saúde/USF e à Medicina Geral e Familiar, que muito tem contribuído para levar saúde aos locais mais reconditos.

Mas a visão de um SNS hegemónico é uma perspectiva ultrapassada, os recursos, incluindo os humanos, não sendo infinitos devem ser coordenados e geridos da melhor maneira para obter ganhos em saúde, articulando sector público, privado e promovendo o sector convencionado.

E o SNS terá obrigatoriamente de desenvolver estratégias para captar e manter os seus recursos mais preciosos, os profissionais, porque a concorrência nacional e internacional é feroz!

Portanto, nada de fazer como a avestruz e enterrar a cabeça na areia, é necessário que o Ministério da Saúde e das Finanças compreendam que para preservar o SNS é fundamental oferecer as melhores condições possíveis aos seus profissionais, nomeadamente locais de trabalho com boas condições físicas, o material necessário para actividade clinica, um sistema informático funcionante, tempo para realizar consultas com qualidade, formação e possibilidade de diferenciação técnico-científica, flexibilidade que permita conciliar o trabalho com a vida pessoal, bons salarios com possibilidade de progressão e sobretudo respeito por quem tão bem faz todos os dias.

É triste para mim receber contactos de colegas médicos de família que exercem em Portugal e que querem emigrar porque não conseguem dar resposta de forma satisfatória a listas de 1900 utentes, com períodos de consulta aberta de 4 horas, onde se inscrevem 80 pessoas, que terão de ser observadas. Não é respeitoso nem digno, nem para o médico nem para o utente, que será visto a correr.

Se compararmos com os 700 utentes de uma lista de um médico de família em França facilmente percebemos que a qualidade dos cuidados prestados não pode ser a mesma.

E o SNS terá também de saber evoluir e adaptar-se à realidade demográfica actual com um envelhecimento marcado da população. À semelhança de outros países, é urgente criar serviços de geriatria nos hospitais, transformar os lares em estabelecimentos de acolhimento de pessoas idosas dependentes com médicos coordenadores, criar subsidios públicos para custear a perda de autonomia dos idosos favorecendo a permanência no domicílio, criar equipas móveis de geriatria e de psiquiatria do idoso, uma plataforma nacional electrónica de lares que permita colocar de forma eficiente os idosos que ja não podem continuar em sua casa.

Portanto, parabéns ao SNS por tudo o que fez e que faz, e muita coragem para tudo o que falta fazer, e que daqui a 40 anos eu possa estar novamente a escrever um artigo neste jornal a celebrar os seus 80 anos!

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