Opinião – Apontamentos: europeias e condenação de agentes da PSP

Posted by
Spread the love

1. Quando este artigo for dado à estampa já se conhecerão os resultados das eleições para o parlamento europeu. Tal não obsta a que falemos das eleições porque, sinceramente, o que menos conta são os resultados, porque se sabe que tal nada mudará na relação de Portugal com a U E, apenas servindo como referência para as próximas legislativas. Dada a modorra em que vive o nosso sistema eleitoral e político, não é preciso ser adivinho, nem confiar especialmente nas sondagens, para saber que os 5 maiores partidos terão o quase exclusivo da representação parlamentar, podendo sobejar um ou dois lugares para os partidos com menor representatividade eleitoral. A “tradição”, a diferença de meios, a desigualdade da cobertura mediática e a falta de qualidade de muitas das organizações é de tal ordem que praticamente impossibilita a entrada no “sistema” de outras forças políticas. Também não custa adivinhar que a abstenção, associada aos votos nulos e brancos, atingirá expressão massiva, sendo, seguramente, a vencedora da noite eleitoral, mau grado os apelos feitos aos eleitores para que votem. As causas para este sistemático desinteresse dos cidadãos, nestas eleições em particular, têm razões longínquas, que as principais figuras da política nacional conhecem bem. A adesão foi feita sem qualquer debate que mobilizasse as pessoas; o mesmo acontecendo com os vários tratados e com a adesão ao euro, que sempre foram apresentados como um grande sucesso para o país, sem quaisquer efeitos negativos, mesmo quando era visível que eram um desastre. Tudo foi sempre apresentado como inevitável e irreversível, endeusando-se os aspetos positivos em torno dos subsídios europeus. E quem defendeu e defende a essencialidade de um debate profundo sobre a natureza, a organização e as políticas comunitária, foi e é acusado de pôr em causa o interesse nacional. E assim, mesmo as forças políticas que, no seu programa, questionam formalmente a nossa relação institucional com a UE, chegada a campanha, metem as suas bandeiras ao saco. A própria composição das listas – com pequenas e honrosas exceções – com figuras menores ou apenas simbólicas dos partidos dá também esse sinal de menorização. Tudo isto, associado à indigência populista e desqualificada da campanha, com muitas acusações recíprocas e centrada em aspetos menores da política nacional, tornaram-na num deserto de ideias. É certo que todos se vangloriam por ainda não termos partidos assumidamente nacionalistas, racistas e xenófobos a concorrer. O que é um aspeto reconhecidamente positivo. Mas a grande abstenção é uma maneira muito nossa, convenhamos, de manifestar o euroceticismo!
2. Um outro apontamento respeita à condenação de 8 de 17 agentes da PSP da esquadra de Alfragide, pelo Tribunal de Sintra, por agressão e sequestro a 6 jovens do bairro da Cova da Moura. Pese embora mal se compreenda como pode o Tribunal ter desvalorizado a componente racista da conduta, face aos factos que vieram a público, apesar de tudo tem de se reconhecer que a sentença pode ter um efeito positivo para refrear esse tipo de práticas em algumas esquadras da PSP e da GNR do país. Como tem de se reconhecer a coragem do responsável do Ministério Público pelo inquérito quando deduziu a acusação, ao invés de, como, por vezes, acontece, outros responsáveis da mesma instituição fazerem de conta que se não passou nada, apesar da evidência dos factos, arquivando os processos. A defesa do prestígio das forças policiais, essencial à manutenção da segurança pública e à paz social, implica, obviamente, tolerância zero com práticas de violência, maus tratos e ofensas aos cidadãos, seja qual for a sua motivação.
Por isso, há duas notas que importa ressaltar: primeira: a posição de, pelo menos alguns sindicatos da PSP, que, ao invés de exigirem justiça exemplar para os polícias prevaricadores, como forma de salvaguarda do bom nome e prestígio da esmagadora maioria dos agentes que se comportam de modo correto, apareceu a defender ativamente aqueles numa atitude desculpabilizante totalmente injustificada e incompreensível ; segunda: o facto de um dos polícias, o único condenado a prisão efetiva, por ser reincidente, ainda se encontrar em funções que lhe permitiram repetir a sua cobarde façanha! O que mostra a forma pouco crítica e responsável como as hierarquias se comportam perante estas situações quando deviam ser as primeiras a tomar medidas firmes para erradicar tais comportamentos.

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.