Opinião: Eutanásia do poder

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Fiquei impressionado com as imagens televisivas do ocorrido na província de Sofala, em Moçambique, e com o estado em que ficou a cidade da Beira, por onde cheguei a passar e a pernoitar.

Assim também me impressionam as imagens televisivas do que se passa na Assembleia da República (nos debates) – uma autêntica teatralidade: todos os deputados e governantes bem vestidos, bem alimentados e bem-falantes…

Tinha razão ao defender que todo o país, todo o lugar, deve produzir 85% do que consome e ter reservas de seis meses para que, perante uma calamidade física, química ou biológica, desencadeada pelo homem (guerra) ou pela natureza (o ocorrido em Moçambique, por exemplo), com racionamento, não haja fome ou desespero. De contrário, somos um castelo cercado no qual a fome ou a falta de água leva à rendição.

Devem ter as reservas de medicamentos (como tinham durante o colonialismo) para acorrer ao paludismo ou a qualquer epidemia que sucedesse.

Cito aqui Khrushchov que, numa entrevista a um jornal italiano, disse: “Eu não fiz uma revolução para viver pior”. Falou no singular. Se tivesse falado no plural – “Nós não fizemos uma revolução para vivermos pior” – como teria concordado com ele e o admirado.

Ocorreu que, sendo Director do Hospital da Universidade de Coimbra (HUC), houve o incêndio no comboio em Alcafache. Há pouco tempo, li na imprensa que fazia anos desse acontecimento ( 35 ou 37?). Como procedi? Estava a chegar a casa e olho para a televisão, que noticiava o ocorrido. Não jantei para ir para o hospital. Mas telefono ainda de casa para o meu mestre, Professor Fernando de Oliveira, dizendo-lhe “Delego em si a autoridade para dentro de uma hora estarem todas as equipes cirúrgicas no hospital”.

Telefono ao Dr. Ferraz, Director do Hospital Militar, perguntando se dispunha de cem camas para o ocorrido. “Não sei se posso”. “Se dentro de uma hora não me tiver dado uma resposta positiva, a partir desse momento, será com o Senhor Comandante da Região Militar”. Não demorou muito tempo para me dizer que estariam disponíveis.

Telefono para as clínicas, para os comandantes da Guarda Republicana e da polícia, para quando partisse do acidente a ambulância se soubesse o grau e gravidade dos doentes, para estar preparada a equipa cirúrgica e médica, adequada ao que teria de fazer. Quando depois chegaram as autoridades, disseram: “Já foram tomadas todas as medidas, não temos nada a acrescentar”.

No dia seguinte, duas horas depois da hora marcada, chega o Senhor Presidente da República, Doutor Mário Soares. Eu tinha-me vindo deitar e recomendei que me chamassem. Não o fizeram. O Senhor Presidente da República louvou o comportamento e procedimento dos HUC. Uma classe profissional ainda interroga: “Quem nos paga as horas extraordinárias?”. “Tenham vergonha… não voltem a repetir”, disse.

Conclusão: quando há disciplina ou ordem e ausência de partidarice resolvem-se os problemas. Como peço ao Criador que isso volte a acontecer…

Eu era eleito, não era nomeado o que passou a acontecer. E se antes trouxemos em quatro anos para Coimbra o centro da Medicina Portuguesa com a inauguração do Hospital, hoje encontra-se em decadência.

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