Opinião – Jardim da Europa

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Faço hoje sessenta e sete anos e vivo por Coimbra há 43 anos que foram tal como Procópio de Oliveira diz a propósito do Rio desta minha cidade:

“O Mondego vai passando;

O Mondego vai correndo;

Passa lento, vai descendo,

Banha as margens do Choupal.

Aos choupos conta segredos,

 Tristes, tristes, do seu mal;

Tristes, tristes, como o mar!

Quem de noite ali for, ouve

O Mondego a soluçar…” (1)

 

Tal como diz o poeta, falando do Mondego, tive momentos tristes, mas nunca os fui contar aos choupos, e por isso nunca pus o Mondego a soluçar.

Sempre entendi que os desaires, manipulações, perfídias e traições são momentos que nos põem à prova e nos fazem sentir plenamente vencedores, evidenciando as nossas capacidades de resiliência. Claro que nunca seremos vencedores solitários. Há sempre amigos e até desconhecidos que se sentem obrigados a serem solidários. Outros são apenas falsos amigos por a escassa coragem e capacidade de trabalho que têm não permitir que o sejam.

Naquele tempo nem sequer conhecia a célebre frase do físico alemão Max Planck que traduzo: “Uma nova verdade científica não triunfa ao convencer os seus oponentes e fazê-los ver a luz, mas por os seus oponentes terem eventualmente morrido, e uma nova geração ter crescido acostumada a ela.” (ver https://www.brainyquote.com/authors/max_planck, acesso em 1 de novembro de 2018 ).

Perdi muitas vezes a oportunidade de aceder como construtor a novas verdades científicas. Mas, tal como qualquer português que se preza, fui fazendo o que podia com os poucos recursos que tinha, ultrapassando obstáculos, esperando sempre um sinal de que tinha atingido em parte os objetivos que sempre prossegui.

Por mero acaso, descobri a vantagem de ir ao estrangeiro mas sem emigrar, bem ao contrário do que alguns governantes mentecaptos aconselham. Foi assim que num congresso recente em Berlim sobre Educação e Natureza, percorrendo o campus da Wilhelm Humboldt University fiquei a saber mais sobre o papel deste físico no desenvolvimento científico da Alemanha e do mundo. Aprendi aí também como alguns amigos da minha idade por terem Pátrias mais amigas da Ciência tiverem vidas mais produtivas.

Infelizmente, não só eu, mas muitos mais perdemos oportunidades por força deste malquerer de traidores invejosos, que transformam cada vida numa impossibilidade que só alguns por terem maior tenacidade conseguem ultrapassar. Aprendi-o através dos meus estudos sobre História da Ciência. Foi essa pesquisa que apresentei com base nos recursos que pude carrear, valorizando a reforma pombalina que abortou em parte por “culpa” da morte de D. José em 1777.

Esperemos agora que no futuro os cientistas portuguesas tenham vidas mais venturosas.

 

(1) Procópio de Oliveira – Portugal – Jardim da Europa (Poema), Costumes, Aspetos e Impressões, Livraria Central Editora, de Gomes de Carvalho, Lisboa, 1948, p. 114.

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