Opinião: Felizmente há luar

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José Fernando Correia

 

Cumprir-se-ão, no próximo dia 18 de outubro, 200 anos sobre o martírio do General Gomes Freire de Andrade (GFA). Militar de carreira invulgar e homem de extração aristocrática, GFA morre enforcado sob acusação de conjura, ao que parece nunca demonstrada, contra o Rei D. João VI e contra a regência representada, naquele então, pelo militar inglês William Beresford.

A circunstância histórica do início do séc. XIX é, entre nós, assaz complexa. Se por um lado, um módico de patriotismo parecia impor uma tomada de partido pelo aliado inglês, por outro, sabia-se que era de França, o invasor recém-expulso, que sopravam os mais promissores ventos de mudança no que dizia respeito à ultrapassagem do chamado “antigo regime” e ao estabelecimento de um modelo político de base liberal. Esse facto faz com que, de alguma forma, GFA se tenha convertido num mártir do liberalismo político português e é difícil resistir à ideia de que o seu sacrifício abriu caminho para a revolução de 1820.

De todo o modo, a tragédia de GFA ilustra bem como o absolutismo tratava o dissenso ideológico e de como era extraordinária a bravura dos homens que o combateram. Já nos anos 60 do séc. XX, Luís de Sttau Monteiro retoma, na famosa peça de teatro que serve de título a esta crónica, o episódio histórico do julgamento e execução de GFA. No final do texto, Matilde, a viúva de GFA, apela à revolta do povo contra a injustiça acabada de cometer, proclamando que mesmo na negra noite havia um farol de esperança. O luar. Não por acaso, o regime proibiu a representação da peça.

 

 

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