António Augusto Menano

Há uma frase de Albert Camus: “A verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente”. Nada mais certo. Nestes últimos dias, a dor, o horror, fizeram-nos relembrar que andam a falar em prevenção dos fogos, de Fundo Florestal Permanente, de equipas do Corpo Nacional Florestal há anos e anos. Mas o eucaliptal invadiu um terço do território nacional, fala-se de PIB de rentabilidade, do lugar primeiro que a indústria de celulose portuguesa ocupa na Europa.

Ouço um dirigente da CAP (?) defender o eucaliptal, na televisão, por economicamente mais importante, porque leva os proprietários dos terrenos a cuidar deles, o que não aconteceria se fosse outra espécie. Sei que é inglório querer substituir eucaliptais por matas de pinheiro manso, de castanheiro, mas o presente acaba de nos macular com dezenas de mortos. A falta e ordenação das matas, a escolha da plantação avulsa das espécies são apontadas como algumas das causas.

Não será possível dar mais ao presente, endeusar menos a rentabilidade, mas ter em conta atitudes mais amigas da vida humana? Os velhos, as mulheres, os homens, as crianças não são combustíveis para a fogueira. Vamos ser mais amigos das nossas florestas, dos habitantes das aldeias “escondidas” entre pinhais e eucaliptais. Já não chega de tanto mercantilismo?