Opinião: Kathmandu

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Pedro Mota Curto

Caminhar pelas ruas de Kathmandu é uma experiência espiritual. Cidade asiática, densamente povoada, onde o bulício oriental consegue conviver com uma paz de espírito inerente a outras religiões, outras latitudes, outras longitudes.

Constata-se a impossibilidade de não ficar surpreso perante os cenários que vão surgindo, prevalecendo as cores quentes, nas roupas, nos cartazes publicitários, nas especiarias, nas comidas, no artesanato, nos chás, no sal rosa dos Himalaias. A simpatia dos locais é constante, os rickshaw circulam em todas as direções transportando pessoas e mercadorias, o comércio abunda numa multiplicidade de pequenas lojas invadidas pelo omnipresente pó que cobre quase todas as ruas, obrigando os comerciantes a estarem sempre a molhar a estrada em frente ao seu estabelecimento.

Muitas das ruas não estão asfaltadas e são quase todas muito estreitas, o pó é permanente, as lojas estão completamente abertas e viradas para a rua. Muito do que vendem está coberto pelo inevitável pó. Numa pequena livraria, todos os livros estavam embrulhados numa cobertura plástica, transparente, única forma de os livros não estarem todos revestidos com o pó da rua.

À noite, o comércio está encerrado, os restaurantes fecham cedo, as ruas estão desertas e a iluminação é quase inexistente. Existe uma zona de bares, frequentada por uma clientela específica, onde se incluem alpinistas, turistas, autóctones e ocidentais nostálgicos, sobreviventes espirituais dos anos 60 e 70.

O Nepal é um dos países mais pobres do mundo, sendo o segundo mais pobre da Ásia, logo a seguir ao Bangladesh. Num território sensivelmente do tamanho de Portugal, aglomeram-se cerca de 25 milhões de pessoas. A sua remota e acidentada localização geográfica manteve este país bastante isolado do mundo o que contribuiu para a manutenção de hábitos e culturas ancestrais. Situado no meio da cordilheira dos Himalaias, faz fronteira com a Índia e com o Tibete (anexado pela China em 1950 ). O Monte Everest, o mais alto do mundo, com os seus 8848 metros de altitude, não fica muito distante de Kathmandu. Foi escalado pela primeira vez em 1953, pelo neozelandês Edmund Hillary e pelo sherpa Tenzing Norgay. No Nepal existem seis montanhas com uma altitude superior aos 8000 metros.

Há uma estrada que liga Kathmandu a Lhasa, capital do Tibete, atravessando a cordilheira dos Himalaias em direção ao norte, mas que neste momento está encerrada. O terramoto ocorrido em 2015, danificou seriamente essa sinuosa via assim como toda a região e a própria capital, onde derrubou templos seculares. Parte de Kathmandu ainda está em reconstrução.

A capital do Nepal tem forte influência da Índia, do Tibete e do Butão, nomeadamente na religião, na culinária e no artesanato. Cerca de 80% são hindus, 10% budistas e uma minoria são muçulmanos ou cristãos. Kathmandu é a cidade dos templos. A espiritualidade oriental é muito intensa. Os deuses hindus são incontáveis. Há um Deus para cada necessidade, sendo que os três principais são Shiva, Vishnu e Brahma. Hindus e budistas convivem pacificamente. Todos os Deuses são bem-vindos e todos podem ser úteis na proteção dos fiéis.

Deambular por Kathmandu é uma viagem no espaço e no tempo.

 

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