Opinião: A televisão, a clubite e a ética

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Santana-Maia Leonardo

Para que haja uma competição limpa, é necessário, por um lado, que todos os competidores aceitem as regras, sem reserva mental, e, por outro, que sejam capazes de se colocar na posição do espectador imparcial na hora de analisar e decidir. Ou seja, é necessário que não sejam batoteiros.

Quer isto dizer que é possível uma pessoa do Benfica, do Sporting ou do Porto analisar com a mesma objectividade uma jogada que beneficia ou prejudica a sua equipa? Não só é possível como é fundamental acreditar nisso, desde logo porque estamos a falar de pessoas e não de bichos. O facto de eu torcer pela minha equipa não pode toldar-me a vista ao ponto de ser incapaz de reconhecer que o golo foi obtido em posição de fora de jogo ou com a mão.

Durante muitos anos, fomo-nos, no entanto, habituando a alguma parcialidade no comentário desportivo, sobretudo nos comentadores conotados com o Sporting e o Porto. Acontece que, nos últimos anos, as televisões permitiram que o Benfica passasse a nomear directamente alguns arruaceiros como seus representantes no comentário desportivo, fazendo com que os antigos comentadores conotados com o Sporting e Porto passassem a parecer meninos de coro, o que levou, de resto, a que o Sporting também quisesse usar de igual prerrogativa.

A partir daqui, os programas de comentário desportivo, à excepção daqueles que são constituídos por antigos futebolistas, transformaram-se num espectáculo indigno de uma sociedade civilizada. Salvo raras excepções, onde se inclui, obviamente, Rogério Alves, que nunca deixaria que a cor da camisola manchasse a sua idoneidade e o seu carácter, a maioria dos comentadores não tem o mínimo pejo em negar as evidências, assumindo publicamente e sem qualquer vergonha o seu carácter de batoteiros. E, quando constatamos que alguns deles chegaram mesmo a ser ministros e secretários de Estado… (Por alguma razão este país bateu no fundo!..)

Mas esta opção das televisões por comentadores do Benfica, Sporting e Porto que estão ali, com o único intuito, de defender a “verdade” que convém aos seus clubes coloca uma questão ética. Com efeito, não é admissível que, por exemplo, Rui Gomes da Silva comente, enquanto representante do Benfica, os lances do jogo com o Vitória, sem que um representante do Vitória esteja presente para defender também a “verdade” do seu clube. Tal como não é admissível que não estivesse presente o representante do Arouca, quando se discutiu o caso do túnel de Alvalade.

As televisões têm o direito a escolher os comentadores que querem. Mas a partir do momento em que optam por escolher comentadores de “camisola vestida”, é eticamente inadmissível que sejam analisados e discutidos, em programas televisivos, casos de jogos onde apenas está presente o representante de um dos contendores.

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