Opinião: A Liga e os Autos de Fé

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Santana-Maia Leonardo

Depois de mais um adepto leonino ter “ardido” num auto de fé junto à Catedral, pretende agora a Liga propor o agravamento das penas para os dirigentes “incendiários”. A questão que se coloca, desde logo, é saber se, em Portugal, existem condições objectivas e subjectivas para aplicar este tipo de medidas sem olhar a quem.

E a verdade é que não existem. Basta ler o estudo da UEFA sobre a relação entre clubes e adeptos por país. E enquanto não percebermos isto, não adianta propor nem importar soluções.

Só o Benfica tem maioria absoluta do eleitorado e os dois clubes alternativos, que, juntos, têm uma força eleitoral idêntica, professam o mesmo ideário. Ou seja, o parlamento futebolístico português é representado por três clubes de ideologia totalitária que não professam o ideário da integridade das competições, da separação de poderes e do fair play. Pelo contrário, pretendem controlar e instrumentalizar os diferentes poderes para ganharem a qualquer preço.

E defender o aumento das multas num campeonato disputado por três hipermercados e quinze mercearias só servia para amordaçar os merceeiros. Por outro lado, a perda de pontos ou a descida de divisão é uma medida impossível de aplicar ao Benfica ou ao Sporting e, mesmo ao Porto, só é possível de aplicar se o Sporting se aliar ao Benfica.

Para se constatar isto, não é necessário irmos muito longe. Na assembleia geral da Liga de Clubes que decorreu em Junho de 2016, os 28 clubes presentes aprovaram a proibição de funcionários e dirigentes dos clubes de participarem regularmente em programas televisivos e que estes estão obrigados a, quando tal acontecer, não porem em causa a imagem da competição e daqueles que nela participam, nomeadamente árbitros.

No entanto, o vice-presidente do Benfica Rui Gomes da Silva decidiu afrontar a proibição e manter a sua participação no programa. O que é que aconteceu ao Benfica?

Recentemente veio-se ainda a saber que os petardos, as tochas e os very-lights com que os comentadores do Benfica incendiavam os referidos programas afinal eram fornecidos pelo próprio clube, sob a mesma forma encoberta com que apoia a sua claque não legalizada dos No Name Boys. E o que é que aconteceu ao Benfica e aos referidos comentadores?

Nem as próprias televisões (pasme-se), perante o escândalo da revelação, foram capazes de tomar a decisão que se impunha, ou seja, de afastar os comentadores da cartilha, medida que teriam adoptado, de imediato, com quaisquer outros intervenientes, fosse do mundo do futebol ou da política.

Não adianta, por isso, vir agora propor novos regulamentos e novas leis que apenas servem, à boa maneira portuguesa, para serem aplicadas aos que menos culpa têm. Um clube com quatro, cinco ou seis milhões de adeptos num pequeno país como o nosso só cumpre os regulamentos que quiser e lhe convier.

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