Francisco Queirós
Imagine-se um planeta com mais de 7 mil e duzentos milhões de seres inteligentes. Imagine-se que para acederem a bens essenciais à vida, a alimentação, o vestuário, a habitação, os cuidados de saúde, a educação, a cultura, o lazer, necessitam de produzir, de criar riqueza. Depois, nesse planeta, os seres inteligentes deverão distribuir entre si a riqueza produzida de acordo com critérios justos. Ora, imagine-se que, nesse planeta de mais de 7 mil milhões de seres inteligentes, há ricos e pobres. Uns com muito e outros com muito pouco ou nada. Mas imagine-se ainda que 8 seres, apenas 8, possuem tanto como metade de todos os seres. Que 8 indivíduos detêm tanto dinheiro como 3 mil e 600 milhões de outras criaturas, a metade dos seres inteligentes mais pobres do planeta! Que horrível filme de ficção seria este! Mas não é um filme, não é ficção! É assim no ano 2017 num planeta conhecido pelo nome de Terra. Chamam capitalismo a esse sistema.
Um estudo recente da Oxfam divulgado a horas do início de mais uma cimeira do Fórum Económico Mundial divulga que um em cada dez seres humanos vive com menos de dois dólares ( 1,88 euros) por dia. Este estudo revela o estado de exploração em que a maioria dos humanos vive. Neste mundo, as maiores empresas têm mais receitas do que 180 países juntos. Entre 1998 e 2011, os 1% mais ricos viram os seus rendimentos crescer 182 vezes mais, enquanto os rendimentos dos mais pobres subiram três dólares (cerca de 2,8 euros) por ano!
Pois é assim: Pega-se em 8 rapazes (não há raparigas!), enfiam-se todos numa Toyota Hiace e ali vai metade da riqueza do mundo.
Warren Buffett (Berkshire Hathaway), Bill Gates (patrão da Microsoft), Amancio Ortega (Inditex), Carlos Slim (Telmex, America Movil, Samsung México e Grupo Carso), Jeff Bezos (Amazon), Mark Zuckerberg (Facebook), Larry Ellison (Oracle) e Michael Bloomberg (da financeira com o seu nome e antigo presidente de Câmara de Nova Iorque) são os 8 homens, pouco mais que os filhos dos meus pais, donos de metade do mundo!
Bem pode o mundo apostar no desenvolvimento técnico e científico que ficará por compreender a matemática do capitalismo. Tentem explicar às crianças que 8 é igual a 3 mil e seiscentos milhões. Mas se nada disto é explicável, se é contrário a toda e qualquer moral… como se explica então o mundo? Se o capitalismo fosse o fim da história, desgraçada estava a humanidade.
