“Nem metade dos ciganos recebe o Rendimento Social de Inserção” (com vídeo)

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Derrubar muros é uma tarefa difícil, quando se trata de mentalidades com vários séculos.
É mesmo isso que queremos desconstruir com o programa ROMED, estimular a participação e aproximar. Embora estejamos numa sociedade que continua a ser preconceituosa, temos de tentar. E tentar, para nós, é sempre uma vitória. Acho que vamos levar a bom porto esta caminhada. São passos pequeninos, mas cremos que, passo a passo, vamos conseguir, e é isso que temos feito na Figueira da Foz, integrando nas propostas do grupo ativo pessoas da comunidade maioritária.

Qual tem sido a resposta da comunidade figueirense?
As pessoas da comunidade maioritária estão a responder muito bem, sobretudo as entidades. Creio que, com o que está a ser feito agora, o fruto virá.

Quais são os principais problemas da comunidade cigana local?
O principal problema é a pobreza. A principal atividade económica, a venda ambulante, atravessa uma grande crise. O desemprego é enorme e o que nós temos sentido é que a comunidade cigana quer trabalhar, mas a grande parte não tem a escolaridade mínima obrigatária. [Por outro lado], o mercado laborar privado está completamente fechado para as comunidades ciganas, devido ao preconceito. Tem de ser a câmara (…), que já empregou três homens e três mulheres.
O programa ROMED não contempla a alfabetização de adultos?
Sim. Uma das propostas do grupo ativo é o aumento da capacitação escolar e da formação profissional. Por exemplo, do grupo ativo saíram, no ano passado, dois homens e uma mulher para a universidade [Bruno Gonçalves é um deles]. Para competir no mercado de trabalho, reivindicar os nossos direitos e aplicar os nossos deveres na sociedade, é necessário termos ciganos capacitados.

Quantos ciganos residem na Figueira da Foz?
Segundo as estimativas, cerca de 900.

Em Portugal, os ciganos estão conotados com o crime, tráfico de droga, violência, parasitismo social. Como é que se combatem este estigma e este preconceito?
É uma luta… Isso tem de mudar. Claro que existem essas pessoas na comunidade cigana, mas não podemos confundir a árvore com a floresta – isso revolta-nos. Há 200 mil beneficiários do Rendimento Social de Inserção e os ciganos representam [apenas] 3,7 por cento. Portanto, nem metade [dos ciganos portugueses] recebe o subsídio.

Quando um cigano vai a um banco pedir um empréstimo, por exemplo, como é tratado?
Sofremos um bocadinho. Existe o racismo subtil, que é o que dói mais. Sobretudo no mercado de arrendamento de habitação, é muito complicado. Vivo numa casa alugada e teve de ser a minha mulher, que não tem tantos traços físicos ciganos como eu, a tratar das coisas. Se o senhorio me visse, talvez não me tivesse arrendado a casa.

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